O povo Tupi chamava de Anhangá todos os espíritos desencarnados que ainda estavam presos no plano material. A maioria atormentando os vivos, pregando peças e assustando-os. É associado a um dos animais míticos dos indígenas, chamado Suassatinga ou Suaçutinga (os outros são, Guaraxaim, Yibioia e a Yawara).

O Anhangá é comumente retratado como um veado branco, de tamanho atroz, com olhos vermelhos da cor de fogo. Porém ele pode assumir diversas formas, dentre elas a forma humana, a forma de tatu, a forma de um boi ou a forma de um pirarucu.

Ele é o protetor da natureza e persegue todos aqueles que caçam de forma indiscriminada, punindo quem caça filhotes ou matrizes que estão nutrindo suas crias. Os índios diziam que quando ele estava se aproximando era ouvido um som de assobio estridente, fazendo com que a presa fugisse pra mata. Quando pune alguém pode iludir o mesmo para que o caçador tenha visões, chegando a confundir seus entes queridos com caça e ferindo-os ou até mesmo matando-os. Alguns ainda são vítimas de febre alta e até mesmo chegam a loucura.

Porém, o Anhangá sabe que a natureza precisa de equilíbrio, logo quando a caça é para a alimentação de subsistência, então ele pode até mesmo auxiliar quem está caçando, se o caçador lhe fizer uma oferenda de tabaco, na mata.

Existem relatos tanto de José de Anchieta quanto de Manoel da Nóbrega a respeito desse mito indígena. Claro, que os jesuítas ao perceberem o temor que os índios nutriam por essa entidade o associaram imediatamente ao diabo cristão. Porém, se formos analisar, o Anhangá é um agente mantenedor da harmonia e do equilíbrio na natureza.

Na cidade de São Paulo, encontramos uma região chamada Anhanguera, onde passa um rio – hoje subterrâneo e canalizado – de mesmo nome. Esse nome é devido a crença dos nativos ameríndios de que esse local era a morada de um espírito (anhangá) velho (guera). Logo, a região e o rio tem o nome do espírito matreiro que era seu encantado natural.

Câmara Cascudo, narra em um de seus textos sobre o Anhangá:

PODERES DE ANHANGÁ VERSUS ASTÚCIA DOS CAÇADORES
O Anhangá traz para aquele que o vê, ouve ou pressente certo prenúncio de desgraça, e os lugares freqüentados por ele são mal-assombrados.

Quando assobia a caça e a pesca desaparecem por encanto.

Existem caçadores e pescadores astutos que, tão logo reconheçam seu assobio, com ele compactuam para uma boa caça ou pesca oferecendo-lhe tabaco.

“Meu compadre me dê uma boa caça, que lhe presenteio com um pouco de tabaco”.

Se a pessoa for atendida, dever cortar uma vara, rachar sua ponta e nela introduzir o tabaco, mortalha para cigarros e fósforo. Feito isso espeta a vara nas proximidades onde a caça foi abatida, dizendo: “compadre está aí o tabaco prometido”.

Contam que todos que se dispuseram voltar para procurar o ofertório, jamais o encontraram.

Mais uma vez o fumo assume um relevante papel no cotidiano das gentes do mato. O tabaco é utilizado também como ofertório para aplacar a ira, a cólera, dos seres punitivos e vingativos, ou agradar os benfeitores; para afastar as influências maléficas e atrair a proteção das deidades do mato.

Segundo relatos, se alguém fizer pouco caso de Anhangá, apanha na hora sem saber de quem, como se fosse atacado por alguém armado com um pedaço de pau.

Caçador desprevenido que aproximar-se de Anhangá em forma de veado e tentar abatê-lo, terá uma desagradável surpresa, pois expelindo fogos pelos olhos, o atacará com incontrolável fúria.

Dizem que se o caçador quiser ter uma caça tranquila, evitando a presença de Anhangá, antes de entrar na mata deve acender foguetes com duas ou três cargas. Se já estiver dentro da mata pode defumar com castanha de caju ou ainda, mais fácil, é fazer uma cruz com madeira da própria mata.

Apesar de os poderes de Anhangá a astúcia de caçadores e pescadores consegue neutralizá-los em parte.

“Anhangá” são rimas para cantar o mito amazônico que protege os animais do caráter predatório de pescadores e caçadores.

FONTES:Geografia dos Mitos Brasileiros – Câmara Cascudo; Painel de Mitos e Lendas da Amazônia – Franz Keuter Pereira; e alguns sites, destacando-se Wikipédia. Recanto das Letras.

Eu vejo o Anhangá como a versão brasileira nativa do Deus de Chifres ou Deus Cornudo. Muito encontrada nas mitologias europeias e conhecida através da figura de Cernunnos, Pã e etc. Inclusive há uma representação de Moisés com chifres. O Chifre é um simbolo de poder, logo é comum atribuí-lo a figuras míticas, para dizer quanto poder aquela entidade possuía.

Algumas tradições de “bruxaria” moderna, tentam usar da figura e dos mitos indígenas em seus rituais. Adaptando-os conforme as suas convenções. Eu, particularmente, acredito que é preciso tomar certo cuidado ao invocar egrégoras tão distantes do senso comum, como são as nativas ameríndias. Nem tudo que os Pajés sabiam, foi passado ou preservado. Além disso, muitos pajés simplesmente ensinaram errado de propósito. Porém a figura do Tabaco é clássica, então oferende um pouco de fumo e faça seus rituais de contemplação a essa força, mas saiba o que está fazendo.

O pessoal da Tradição Diânica do Brasil, editou um e-book chamado: Práticas de Wicca Brasil – Saberes da Terra Brasilis. Vale a leitura apenas pela curiosidade, não pelos rituais lá explanados.

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