As respostas dadas na semana passada se desdobraram em novas perguntas, então vamos tentar respondê-las em mais essa edição do Perdido em Perguntas. Alguns dos tópicos abordados Exu, Pombagira e Espíritos Naturais ou Encantados.

Lembro a todos que as respostas dadas aqui são oriundas de minhas experiências pessoais e de meus estudos, então pode ser que algumas delas entrem em conflito com o conhecimento que outros possuem. Em momento algum eu quero chocar ou impor nada, só estou transmitindo o que me foi ensinado.

1 – É certo então dizer que na Umbanda saudamos tanto a Quimbanda quanto a Kimbanda?

Essa resposta é complicada de dar, o mais correto seria dizer: Depende!

Mas para não ficar assim tão aberta essa questão vou expor o que penso. A Kimbanda é toda arte de cura, então o Kimbandeiro é um Xamã Africano, como visto no artigo do Edmundo Pellizari. Se em uma casa utiliza-se essa corrente de cura, é correto afirmar que saudamos os Kimbandas ou Kimbandeiros. Muitos sacerdotes africanos eram kimbandeiros e alguns deles se manifestam nos terreiros, em outras roupagens. Na questão da Quimbanda que seria o culto da esquerda focado em Exu e Pombagira, é preciso que se faça uma ressalva histórica. A Quimbanda é um culto, não uma religião, é uma forma de se lidar com certas energias, na Quimbanda é possível ver a presença de espíritos ainda não comprometidos com a Lei Maior e Justiça Divina, mas em processo de aprendizado e evolução. Seria, a grosso modo, os espíritos desequilibrados resgatados pelos Exus e Pombagiras Coroados (batizados/de Lei). Quando se saúda a esquerda no começo dos trabalhos de Umbanda, estamos reverenciando os Exus e Pombagiras de Lei, a esquerda já comprometida com a Justiça Divina e a Lei Maior, não exatamente a Quimbanda, mas o termo acabou pegando pois ambos tem a manifestação das forças da esquerda. Então no começo dos trabalhos apesar de falarmos vamos saudar a Quimbanda, estamos saravando a Esquerda do terreiro comprometida na Lei de Umbanda. Esse tema de Quimbanda é bem complexo, vou tentar responder ele em um artigo individual futuramente.

2 – Percebo que quando saudamos a esquerda (quimbanda) do terreiro é comum os médiuns entrelaçarem os dedos com as palmas voltadas para baixo fazendo movimentos circulares. O que significa isso?

É uma forma ritualística de cumprimentar (saravar) a linha da esquerda. O povo da Esquerda é quem tem a energia mais próxima do ser humano, por isso que muitos dizem que é mais fácil incorporar Exu. Então podemos dizer que eles tem uma força telúrica muito presente e forte. Pelo simbolismo eles trabalham nas trevas mas para a Luz. Essa forma de entrelaçar os dedos e reverenciar Exu e Pombagira é para mostrar respeito por suas forças e dar boas vindas a esses trabalhadores. O costume é fazer isso também na frente da tronqueira. Geralmente nos viramos de frente pra tronqueira, curvamos um pouco o corpo, fazemos esse gesto com a mão, giramos três vezes em sentido anti-horário, e empurramos a mão para baixo três vezes também, dizendo Laroyê Exu, Exu é Mojúba! E bate-se o paô, que é a palma batida três vezes. Pede-se a licença para entrar naquele local para os guardiões da tronqueira. Faz-se o mesmo pra Pombagira e Exu-Mirim. O ‘povo’ tem medo de Exu, mas sem Exu não se faz nada! Antes de temer é necessário compreender.

3 – O que é Assentamento de Exu? Como posso fazê-lo?

Assentamento de Exu é um ponto (passado pelo próprio Exu do médium) a ser feito na tronqueira ou em um outro local determinado pela entidade para fixar as suas forças e ser um irradiador ou absorvedor constante de energias que serão usadas nos trabalhos. O Médium não faz assentamento de Exu na Umbanda, isso fica a cargo do dirigente (Pai ou Mãe de Santo, Babalaô, Babalorixá, Ialorixá, Tatá, etc). Assenta-se o Exu do Chefe da Casa ou o Exu Guardião do Terreiro. O que um médium pode fazer é uma firmeza para sua esquerda. Firmeza é um ponto com prazo validade, podemos assim dizer, que deve ser refeito constantemente. O mais simples é acender uma vela para sua esquerda, usualmente é a vela preta ou preta-vermelha, um copo de marafo, e um charuto. Para as Pombagiras usa-se uma vela vermelha, um copo de espumante rosé e uma cigarrilha. Eu faço uma ressalva aqui, pois muitos que me leem trabalham no mesmo centro que eu, e lá nós temos determinações dos guias chefes da casa de não usar álcool (marafo e espumante) e não usar velas que contenha a cor preta. Nestes casos fazemos a firmeza com a vela branca e um copo de água mesmo se for necessário. Mas a melhor firmeza que existe é a conversação sua com sua esquerda, pedindo o amparo deles para os trabalhos.

4 – Mas afinal, Exu é um espírito das trevas? E Pombagira é um espírito de prostituta?

Olha, não posso dizer que nenhum deles foram isso ou aquilo, pois suas vidas na terra só dizem respeito a eles. Mas o que posso afirmar é que isso não é regra e nunca foi, isso só se deve ao preconceito das pessoas e da demonização que a figura do Orixá Exu sofreu pela igreja Católica aqui no Brasil. Exu é um espírito que trabalha nas trevas, porém ele faz o serviço da Luz. E as Pombagiras idem. O que muitos temem é que Exu transparece o lado mais terreno do médium, e colocam tudo a conta de Exu. Calma lá né? Exu é dono do fator especular, ou seja ele vai maximizar todo o desequilíbrio do médium. Então se o médium é orgulhoso, você verá um exu vaidoso também, e assim por diante. E no caso das Pombagiras, preconceito puro, pois a gente não está preparado para ver uma mulher totalmente livre das suas amarras. É o poder feminino puro.

5 – Por que algumas entidades ‘choram’? Quem são elas?

Acho que é mais uma pergunta que vou incomodar. As entidades não precisam chorar. Algumas emitem sons que parecem choros, mas são cânticos, as chamadas sereias. Elas são seres naturais/encantados, ou seja, nunca tiveram uma encarnação humana. Mas o seu ‘choro’ é como um mantra, isso podemos ver na mitologia quando se referem a esse tipo de entidade, que atraíam os marinheiros com suas vozes melodiosas para o fundo do mar. No caso, essa linha das águas geralmente é chamada para fazer a limpeza nos terreiros. Antigamente era comum as médiuns incorporarem esse tipo de entidade natural para fazer a limpeza do ambiente logo antes ou após a defumação nas aberturas dos trabalhos, hoje em dia ainda se chama essa linha mas ela não precisa incorporar pra fazer o mesmo tipo de assepsia energética no local. Agora o que acontece é que o impacto desse tipo de energia pode comover uma pessoa (comum também na vibração de Oxum) e aí o médium libera o seu mental desequilibrado e começa a chorar descompassadamente. Então na verdade não é um choro é um cântico e o fato das lágrimas rolarem em grande quantidade se dá pelo choque vibratório, o que o médium nem sempre está preparado para segurar. Aí que entra a reforma íntima. Um tema que abordaremos melhor mais a frente, mas que já foi abordado em alguns textos de forma indireta, clique aqui para acessá-los.

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