Mais um texto pautado em uma pergunta feita em nossos grupos de estudo pelos nossos leitores, desta vez foi a vez do leitor JM Tomaz Vasconcelos Jr, ele pergunta:

Como se tornar um médium independente? Aprender a consagrar, benzer, a fazer banhos de descarrego, atrativo e de proteção? Isso deve somente ser aprendido com os guias? Grato.”

Antes de responder claramente a pergunta do leitor eu gostaria de contextualizar a prática de Umbanda e também a figura do médium em diversas religiões espiritualistas.

A Umbanda é uma religião com caráter nítido e claro de ser um aporte para os menos favorecidos, sendo um balcão de Pronto-Atendimento espiritual, estando aberto a todos. Desta forma, podemos já considerar que praticar a Umbanda exige mais do que apenas ser um médium, mas ter toda uma sorte de indicações que nos apontam que este é o nosso caminho.

A mediunidade pode ser expressa em diversas manifestações religiosas, até mesmo em religiões que não trabalham diretamente com o fator mediúnico, ou ao menos, acreditam que não trabalham, como as igrejas Pentecostais e também as Carismáticas católicas. Além disso temos o Espiritismo, Budismo, Hinduísmo, Religiões Orientais e toda uma sorte de experiências místicas a disposição.

Só no Brasil podemos citar: Candomblé (Nagô, Jejê, Ketu, Angola, de Almas, de Caboclo, etc), Barba Soeira (Umbanda de Barba Soeira ou Terecô), Catimbó, Jurema, Encantaria, Xangô de Pernambuco, Tambor de Mina, Batuque, etc.

Percebem como existe uma vasta gama de opções? Se formos para o exterior encontraremos: Maria Lionza, Vodu, Voodoo, Santeria, Santia, Obeah, Wanga, Hoodoo, Reglas de Palo, etc.

Gente é muita opção a disposição do “médium”! Contudo o nosso leitor foca na Umbanda, apesar de não versar sobre o mesmo em sua pergunta diretamente. Faço essa suposição visto que a temática do blog é de Umbanda e o grupo de estudos, idem.

Dentro do que compreendemos como Umbanda, não vejo a possibilidade de ser algo praticado isoladamente. A prática de Umbanda solitária é inócua e não é por vontade das entidades ou de uma regra escrita em pedra. O fato aqui é que assim que alguém sabe que você incorpora um espírito dentro das práticas umbandistas, com certeza ele irá lhe pedir uma consulta de algum forma, mesmo que a distância.

Sendo assim, quando incorporado com uma entidade, possivelmente terá alguém do seu lado fazendo o papel de cambone, pois então está formado um terreiro ou um proto-terreiro. Lembrando que Jesus dizia em Mateus 18:20:

“Porque, onde estiverem dois ou três… Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.”

Porém, de outro lado, temos o papel do médium como um facilitador das mirongas do astral, mas devemos nos lembrar que nem sempre os guias-espirituais estarão a nossa disposição para um atendimento ou para uma necessidade imediata. Justamente por isso que os próprios guias-espirituais, quando dentro da Lei de Umbanda, costumam ensinar muitas coisas a seus “cavalos” e também a exigir que esses se tornem mais responsáveis por si mesmos e independentes.

Partimos da figura de um médium passivo para a de um feiticeiro ativo. Apesar da palavra feiticeiro ter tomado conotação negativa com o passar dos anos, eu prefiro utilizá-la pelo empirismo que está em suas letras e em seu significado. O feiticeiro é aquele que pratica feitiços ou magias populares e que obtém resultados de forma empírica, pela experimentação e pela amostragem. Pela tentativa e erro, ele consolida certas tradições e essas são repassadas para os próximos aprendizes e assim por diante.

Dentro de uma visão da Quimbanda ou da Kimbanda – cujo significado pode ser traduzido aproximadamente como feiticeiro – temos essa independência mais clara. Assim também o é com os pajés em diversas tribos, que se utilizam de meios mais ativos, tais como feitiços, magias, projeção astral, exorcismos; do que propriamente de uma incorporação de espíritos.

De qualquer forma para se tornar um médium independente e capacitado, devemos primeiro ter um refúgio para descarrego. Da mesma forma que um psicólogo tem seu orientador para desanuviar o pesado fardo que carrega de seus clientes, todo médium deve ter uma casa ou um cuidador com quem passar para descarregar o mesmo. Isso não é ser dependente, isso é saber que todos precisam de todos em um sistema harmônico e simbiótico.

Além disto, para aprender a consagrar, benzer, fazer as prática mágicas como banhos, defumações, proteções e etc; deve-se sempre procurar o estudo pautado em leitura, reflexão e principalmente vivência em terreiro.

Claro que você pode aprender com seu mentor espiritual, porém a visão dele é limitada a suas próprias experiências pessoais. Em um terreiro você está imerso em diversas energias e conflitos a todo instante. Os Cambones, por exemplo, geralmente se tornam grandes aprendizes, quando fazem rodízio de entidades, ajudando uma entidade diferente a cada sessão.

Desta forma aprende-se os trejeitos e as mandingas de diversas entidades, compreende-se como atacar diversos problemas de formas diferentes e principalmente aprende-se a ouvir.

O que não se pode fazer é procurar conhecimento para aprimorar-se e se contentar com cursinhos rápidos de Internet que não explicam nada e mais inventam do que realmente trazem aprendizado. Porém, criam falsas seguranças e dão a suposta “garantia” de um diploma ou certificado de que na hora do vamos ver, de nada vale.

Cito aqui uma história pessoal minha, quando fui fazer determinado curso de uma vertente de Umbanda muito popular no sudeste do Brasil e que era a modinha da época. Resumidamente, me vi entranhado por aquelas informações e quis colocar em prática tudo que era possível e fazia muitas “magias” o tempo todo para os mais diversos propósitos. Isso se dá pela minha natureza perscrutadora.

Certo dia, achando que aquilo me bastava, em uma projeção astral me vi perseguido por uma entidade violenta. Corria desesperadamente tentando fugir, quando tomei consciência do fato e parei, para projetar a “magia” que havia aprendido, de certa forma uma magia que enviava sete espadas para cada uma das mãos e eram usadas para projetar formas de energia (quase um Hadouken ou Kamihameha espiritual) para afastar esse tipo de entidades.

Claro que isso só era possível após uma longa ritualística e evocação e eu fui fazendo a coreografia e recitando toda a poesia da evocatória, quando a entidade parou na minha frente e começou a RIR de mim e de meu papel de palhaço astral.

Veja, funcionou de certa forma pois a entidade parou de me perseguir, acho que sentindo dó de quão ridículo eu devia estar aparentando e foi embora, mas de fato nem cheguei a fazer a magia.

Em outra oportunidade, tentei fazer o mesmo em uma incursão no astral e toda a minha projeção energética era inócua, não resultava em nada, só em desgaste de meu próprio ser espiritual. Quando o amparador me disse, tente o simples que aprendeu com os caboclos e então, isso sim, funcionou magistralmente.

Veem como é que são as coisas? Quando se está praticando de forma isolada e individual, falta-lhe a experiência e o diverso. Não ter com quem conversar sobre ou até mesmo “comparar” positivamente as manifestações, acaba cerceando um pouco a suas capacidades e o seu crescimento.

É possível praticar sozinho? De certa forma, até é, mas não será tão eficiente quanto praticar com um grupo ou egrégora.

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