O Undercover Macumbeiro é uma polêmica desde a sua concepção. Mas como bom filho de Ogum, não costumo fugir da briga e por se tratar de ser uma coluna que preza por expor a verdade, acaba nos permitindo repensar o cenário umbandista e espiritualista.


Esse relato ocorreu logo no meu começo de Umbanda, de forma ostensiva, onde tomei conhecimento de uma rádio sobre Umbanda pela internet. Achei a ideia incrível, pois além de pontos, poderíamos discutir a prática religiosa para muitas pessoas de forma bem difundida, porém, nem sempre é o que ocorre. Um desses programas tinha o nome de uma entidade e era apresentado pelos sacerdotes (assim autodenominados) da casa e eu quis conhecer a mesma, aproveitando fui com minha ex-esposa e também um colega conhecer o local.

Chegando até o local, em algum lugar da Zona Leste da cidade de São Paulo, percebi um aglomerado de pessoas se juntando em uma rua estreita e erma e localizei o terreiro na sobreloja do mesmo espaço. Embaixo havia uma loja de produtos religiosos, onde você deveria entrar para registrar a sua visita ao terreiro. De certa forma, achei interessante ter esse registro, porém achei mercantilista você ser obrigado a ir em uma loja. Após a defumação que rolava no terreiro, o médium responsável por esta, desce as escadas e defuma todos que estavam na rua. Até aí, tudo bem, pois vai que queriam defumar mesmo a todos.

Esperamos muito tempo para sermos atendidos, a casa, talvez pela popularidade do programa e também por ser uma Gira de Exus, estava lotada. Após muito tempo esperando fomos convidados a subir e nos sentamos em uma área de atendimento depois de passar por salas, quadros de aviso, avisos de cursos, murais com pedidos de doação e propagandas de cursos, todos a preços próximos de R$ 70,00. Sentados nas desconfortáveis cadeiras, não conseguíamos enxerga a área do Congá, pois era tudo fechado por uma porta de ferro e vidro com aqueles vidrinhos todos octavados que distorcem a visão.

Chegada a minha hora, me recomendaram tirar os tênis e fui ao encontro de um senhor que estava sentado no chão, com um ponto riscado e um copo de pinga no mesmo e ele fumava um charuto, que não distingui a marca. Com um brajá vermelho e preto cruzando o corpo e filá preto, roupas pretas e vermelhas, ele começa a me dar passes e perguntar o que estava fazendo lá.

Disse-lhe que estava indo visitar a casa para conhecer, pois havia ouvido o programa de rádio e que não tinha algum problema sequer para relatar, só tinha ido para conhecer mesmo. Então o mesmo começa a me dar um sermão de como ser médium é ter responsabilidade, de que eu deveria ficar naquela casa e que ele e o cavalo haviam ido em muitas casas e caído muito na vida, mas que ali tinham se encontrado a ponto do cavalo ter se tornado um sacerdote. Falava isso apontando e puxando o brajá vermelho e preto. Disse-me ainda sobre as muitas quedas do cavalo com a bebida e que hoje só usava para por no ponto riscado e finalizou: Me chamo 7 Tronqueiras!

Curiosamente, essa não foi a última vez que encontrei esse médium e essa entidade, porém ele trocou de casa e podia ser encontrado na casa que relato no undercover: “Quem ouve é posto a prova – Pantera-Negra e Jurema“.

Eu já estava meio insatisfeito com a “modéstia” do Exu, quando ele começa a apontar para a mãe da casa, exaltando suas qualidade e seus predicados. Dizendo que ela salvou a vida dele e que eu deveria fazer o mesmo, pois na casa que eu vivia não tinha isso de cuidar de Exu e que Exu precisa ser cuidado porque senão vira sua vida do avesso e que você tem que alimentar Exu. Perguntou-me quando fora a última vez que oferendei meu exu e respondi-lhe que isso não era prática comum na minha casa, apenas acendia a firmeza dele com um copo de água ou bebida da escolha dele e uma vela vermelha e preta, quiçá branca, na maioria das vezes. Que de vez em quando dava-lhe um charuto, porém o 7 Tronqueiras não aceitou minha resposta e disse que haviam me ensinado errado, que exu tinha que ser alimentado com coisa boa e que ele queria me convidar para trabalhar lá, porém antes teria que fazer o curso de desenvolvimento, depois um curso de magia de fogo e depois um curso de portais de Obaluayê. Nisso percebi que o Exu deveria saber mais que o secretário da casa em si sobre as necessidades e pré-requisitos para adentrar aquela casa.

Eu pedi licença para ele e disse que estava bem onde estava, então ele me interrompeu e disse-me que tudo parecia bem, mas que os espíritos maus iam me cobrar o alimento de alguma forma. Agradeci, falei que ponderaria sobre suas palavras (e realmente o fiz, o que não implica que tenha que concordar) e me retirei para a assistência esperando meu colega e minha ex-esposa.

A surpresa me veio quando eles comunicaram coisas semelhantes, que os Exus pelos quais eles passaram pareciam vendedores de telemarketing desesperados para fechar a meta mensal de cursos e médiuns adquiridos para o desenvolvimento mediúnico.

De qualquer forma, o programa no Rádio continuou e eu comecei a perceber coisas estranhas nas falas e indicações, principalmente quando era um Exu Pimenta que dava as respostas das perguntas dos ouvintes. Nem sei se ainda existe esse programa, apesar que sei que a rádio ainda está na ativa, porém a própria casa saiu completamente do eixo que seguia e virou algo muito parecido com um teatro candomblecista que faria os verdadeiros praticantes do Candomblé se arrepiarem!

Pois bem, quem sabe encontro o 7 tronqueiras em outros terreiros que visitar também?

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