Coluna nova e coluna polêmica! Fiquei algum tempo pensando se deveria trazê-la à luz publicamente, mas acabei por clamor popular decidindo exibir o relato abaixo para que as coisas ficassem mais claras e outras pessoas também pudessem se aproveitar das minhas experiências.

Eu, como pesquisador, já me enfiei em tudo quanto é tipo de lugar. De Umbanda, a Igrejas de todas as denominações, lá estive eu procurando aprender com eles e também a analisar o fenômeno religioso. Porém quando se trata de Umbanda, eu tenho uma certa preocupação, pois é a crença que eu pratico e tenho meus parâmetros sobre a mesma.

O que relato abaixo não é em tom pejorativo, mas sim para fins de estudo. Então utilize do seu bom-senso e da sua educação a partir de agora.


Seu 7 Igrejas e a Escola de Mistérios.

No dia 18 de Janeiro de 2016, fui convidado a visitar um terreiro de Umbanda por um amigo agnóstico. Ele, com dificuldades em aceitar ou refutar completamente a ideia de Deus e tendo certa curiosidade e interesse a respeito das religiões espiritualistas, queria minha opinião sobre o local, que era chefiado pelo (até então) sogro da irmã dele. Combinei com ele que iria, porém em momento algum poderia ele citar que eu era um médium de Umbanda ou que possuía um blog sobre espiritualidade. Isso não foi feito para menosprezar ou pegar no flagra qualquer atitude, mas simplesmente como uma experimentação, que falta demais nos terreiros e no mundo espiritualista, sendo que hoje aceitamos tudo de pronto.

Chegamos ao local, fui adentrando o mesmo sendo cumprimentado logo na porta pelo Dirigente da casa, a qual eles chamam de Pai-de-Santo. Seria uma gira comemorativa para Oxóssi, onde podia perceber além do ambiente bem singelo, também uma mesa cheia de frutas. A casa era pequena, composta apenas do Pai-de-Santo, a sua esposa, que tomava o cargo do dirigente; dois ogãs, que também eram rodantes e mais três médiuns mulheres, que a princípio não incorporariam.

Enquanto os atabaques retumbavam, o Pai ia emitindo os cânticos, convidando as entidades e os Orixás, então parou e começou a dar os recados normais da casa: Mensalidade dos médiuns, pontualidade, uso dos instrumentos da casa e afins. Após isso deu uma breve preleção sobre a Umbanda e seu surgimento, que parafrasearei abaixo:

“A Umbanda surgiu das Senzalas, com os negros africanos, onde cultuavam os Orixás no sincretismo dos santos para enganar os seus senhores. A Umbanda vem da África e apenas foi registrada em cartório em Niterói por um médium como Tenda De Umbanda Caboclo das 7 Encruzilhadas.”1.

Dando continuidade o mesmo chamou o ponto da cabocla Jurema e a mãe da Casa incorporou uma Jurema bem tranquila e quieta. Porém era perceptível que ela estava sendo apenas inspirada, não ocorrendo qualquer tipo de incorporação com a mesma. O próprio Pai-de-Santo incorporou o seu Cacique e o mesmo pegou um cajado imenso e uma tiara de penas. Nisso dois homens entraram no terreiro, um vestido de maneira simplória, meio sujo, evidenciando o seu labor como pedreiro. Outro já estava mais bem vestido, apesar de roupas normais. O Cacique chegou aos mesmos e falou para um deles ir pro atabaque porque sabia que era Ogã, o mesmo foi e começou a tocar. O Cacique, perguntou mais de uma vez para todos ouvirem, se ele os conhecia. A resposta sempre foi negativa.

O outro rapaz mais bem vestido disse que vinha do Candomblé e era rodante. Os ogãs oficiais da casa saíram do atabaque e incorporaram seus caboclos para as consultas e então começaram as mesmas.

Após o ogã convidado terminar de tocar e beber um pouco de marafo, foi embora, sem avisar. Aliás, disseram que iriam fumar um cigarro e não voltaram mais. Depois da virada dos caboclos, saudaram as Iabás e cada uma das médiuns recebeu um orixá: Oxum, Iansã e Iemanjá. Logo após, chamaram os Baianos e o Pai Incorporou o Baiano Sete Igrejas enquanto a mãe incorporava uma baiana (que não sei o nome). Enquanto isso, os ogãs incorporaram um Marinho e um Zé Pelintra. Nisso o Baiano 7 Igrejas olha para mim no fundo e diz:

“Teus estudos são bons! São muito bons! Você sabe das coisas!”

Eu prontamente lhe disse: “Sei pouco, mas estou aprendendo. Porém, há muito ainda por aprender!”.

O Baiano sentou na sua cadeira e disse que depois conversava comigo, além de perguntar se eu estudava Candomblé também. Eu disse que não, que me limitava a Umbanda. Ele disse então que eu seria igual o Francês do candomblé… perguntou o nome e eu disse: Pierre Verger? E ele acenou: “Sim! Você vai ser o Vergezinho da Umbanda!”.

Chamou meu amigo para conversar dizendo que aquilo era arte dele que não acreditava em nada, mas que ninguém o enganava. Conversou longamente com meu amigo e depois me chamou.

Fui até lá o saudei e ele perguntou quantos antes haviam me identificado. Disse que nunca haviam identificado que era a primeira vez. Conversamos sobre algumas coisas e a prosa estava boa, até que ele perguntou se eu queria aprender coisas novas ou se ele podia me ensinar algo mais. Eu disse que sempre aprendemos com as conversas e apesar de não possuir naquele momento nenhuma pergunta específica, já tinha aprendido bastante com a observação e que teria uma boa história para contar.

Poderia ter parado por aí, mas não parou. O 7 Igrejas continuou dizendo várias palavras e palavrões entre um gole de marafo e uma baforada de charuto e me perguntou se eu sabia quem era o dono daquele terreiro. Disse-lhe que não sabia então ele disse: É Marabô! Eu sou apenas gerente, ele que fala então: Manda quem pode, obedece quem tem juízo.

Desta dita para depois, foi uma confluência de fatos infelizes, onde ele começou a dizer que era o primeiro 7 igrejas baiano a surgir para formar uma falange de 48 quando deixassem. Que ele estava mais para Boiadeiro do que Baiano, mas mandaram ele como baiano e ele aceitou. Que ele era Tatá de Catimbó em vida e inclusive me deu a data de nascimento dele, contando uns 280 anos de desencarne, porém eu não anotei a data (falha minha) e, por conseguinte disse que se eu quisesse aprender Umbanda tinha que estudar na Escola de Umbanda e Mistério da Estrela Sirius, e perguntou se eu sabia onde era… disse que não e então ele disse: “É aqui! Cê sabe o que é Sirius?”.

Disse que sim, que é uma estrela, ou melhor um sistema de estrelas. Ele me corrigiu dizendo que eram duas estrelas, uma FIXA e uma móvel. Disse que a FIXA era a morada de DEUS e a que circulava em torno era do filho de Deus, o seu filho mais querido. Perguntou-me se eu sabia quem era o filho e eu sem PENSAR disse na LATA: Claro, é Jesus!

Só para ouvir uma correção: Não! O filho mais brilhante é Lúcifer. Que também é o dono dessa terra que vocês pisam e Jesus é seu irmão gêmeo e então deslanchou a falar sobre a gênese bíblica e como surgiu Adão e Eva e tal, tudo pautado em teosofia. Eu estava reconhecendo o discurso, porém disse que não sabia. Ele disse que deveria estudar então Helena Petrova Blavatsky e a Grande Fraternidade Branca.

Bom, por fim conversamos mais um pouco e finalizei a conversa, indo embora um pouco antes do fechamento. Não sei se tão antes, pois eles ainda iam consultar mais pessoas e depois iria virar pra Exu a gira!

E foi isso!

O que pude perceber disso tudo? Bom, não há como duvidar que houvesse um espírito ou espíritos guiando os trabalhos de forma a ele adivinhar coisas que seriam impossíveis sem conhecimento prévio (ou ele estudou e se informou sobre mim, colhendo algo nas entrelinhas das pessoas que ele conhece, ou até mesmo acabou deduzindo, sei lá). Porém não podemos dizer que são espíritos evoluídos pela postura e pela forma de dialogar e também por refutarem a magnitude de Jesus, sendo a Umbanda uma religião Cristã. Mas também pode ser que haja guias bons ali, porém o médium passa a frente muitas vezes. Talvez com a informação do guia de que eu era um “Estudioso”, nas palavras do guia, o Pai de Santo – Médium claramente consciente – quis demonstrar que também manjava dos paranauês e quis me impressionar ou validar sua posição. (Sei que é bem arrogante pensar assim, mas é o que um investigador faz…).

Mas eu sou um Vergezinho? JAMAIS! Aliás, foi exatamente isso que me demonstrou a estirpe dos guias que lá atuam. Não exatamente maus, porém também não evoluídos. Ainda presos ao circulo da reencarnação, procurando seu próprio aprimoramento. Ele com esse elogio tentou mexer no meu ego e na minha vaidade, pra que eu ou fosse nublado pelos mesmos com o elogio e perdesse a objetividade ou que eu caísse na tentação de me achar algo mais do que sou, apenas um estudante.

Não tenho a mínima pretensão em ser uma unanimidade ou um mestre, pois mestre para mim, como aprendi na Umbanda de terreiro é apenas Jesus, que representa o poder MAIOR de DEUS CRIADOR! Eu? Eu sou apenas um cara que erra pra caramba, procurando acertar umas contas com o passado.

Sobre o terreiro? Não é de todo mal, pois percebi muitas pessoas indo lá e saindo sorrindo, bem! E é isso que importa de fato… desde que não se faça nada de mal para ninguém e pelas histórias que me foram contadas eles já recusaram por diversas vezes muito dinheiro para não fazer amarrações e demandas negativas.

Também não cobram nada e nem passam o envelope e todas as velas são brancas, sem a diversidade de velas pretas e coloridas espalhadas para demonstrar um poder que não existe. É um local simples, porém condizente, apesar de todas as pisadas fora, com o lema umbandista de “a todos espíritos dar voz”.

Só senti falta do Pai Nosso e da Ave Maria no começo dos Trabalho e também da figura de Jesus no linguajar dos médiuns e entidades. Só vi Jesus no altar (Pejí) em um quadro.

E vocês o que aprenderam com tudo isso?


1 Essa é a visão desse Pai-de-Santo e não como historicamente é aceito.

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