A mediunidade inspirativa ou intuitiva gera muita confusão, por serem termos assemelhados em grafia e até mesmo em significado, muitas vezes passam pela mesma coisa.

Sem medo de errar posso afirmar que essa mediunidade é encontrada em 100% das pessoas, principalmente a forma inspirativa. Porém, devido a grande preconceito que ainda impera sobre esse tema e sobre esse tipo de mediunidade, acabamos encontrando poucas informações. Chega-se a jogar tudo até “embaixo do tapete” para dar vazão a um fingimento ou teatralidade, principalmente quando se trabalha com esse tipo de mediunidade na Umbanda.

Allan Kardec, passa por esse assunto, tangenciando a mediunidade de escrita – psicografia – e como a intuição e a inspiração se aplicam a ela, mas não encontramos nada falando sobre a incorporação ou outras formas de mediunidades que trabalham com a intuição e a inspiração. Vamos começar a abordagem primeiro pela mediunidade intuitiva.

Mediunidade de Intuição

No capítulo 15 do Livro dos Médiuns, podemos encontrar uma explicação sobre as mesmas, vejamos abaixo:

“180. A comunicação do pensamento do espírito pode dar-se também por meio do Espírito do médium, ou melhor, da sua alma, desde que designamos por essa palavra o Espírito quando encarnado. O Espírito comunicante, nesse caso, não age sobre a mão para fazê-la escrever, não a toma nem a guia, agindo sobre a Alma com a qual se identifica. É então a Alma do médium que, sob essa impulsão, dirige a mão e esta o lápis.” 

Aqui também podemos aplicar a incorporação, a entidade espiritual atua no duplo-etéreo do médium (que Kardec chama de alma ou períspirito) e então o espírito do médium transmite a impressão, lembrando um pouco um mímico ou uma brincadeira de siga o mestre. A mediunidade de incorporação de forma consciente é exatamente isso, a mediunidade de inspiração.

“Notemos aqui um fato importante que se deve conhecer. O Espírito comunicante não substitui a Alma do médium, porque não poderia deslocá-la do corpo: domina-a, sem que isso dependa da vontade dela, e lhe imprime a sua vontade própria. Assim, o papel da Alma não é absolutamente passivo. É ela que recebe o pensamento do Espírito e o transmite. Nessa situação, o médium tem consciência do que escreve, embora não se trate do seu próprio pensamento. É o que se chama médium intuitivo.” 

Também vemos isso dentro da incorporação, onde sabemos onde estamos, temos essa consciência e também de tudo que o guia espiritual está fazendo, mas nos colocamos em passividade para que as impressões do guia sobreponham a nossa própria vontade e consciência e o trabalho seja realizado. Lembrando que o perispírito é quem domina a matéria e tudo que a ele impressiona, impressiona o nosso corpo físico, inclusive as transfigurações muito comuns quando os guias incorporam. Um fato a ressaltar aqui é a importância de estabelecer uma boa conduta, baseada na reforma íntima, para traduzir de forma coerente as impressões e os pensamentos dos guias, pois a falha nesse aspecto é o que acarreta as consultas mal dadas e as informações descabidas, além de ilusões.

“Sendo dessa maneira, dir-se-ia, nada prova que seja outro Espírito e não o do médium que escreve. A distinção, de fato, é às vezes bastante difícil de se fazer, mas pode ser que isso pouco importe. Pode-se, entretanto, conhecer o pensamento sugerido pela razão de não ser jamais preconcebido, surgindo na proporção em que escreve, e muitas vezes ser mesmo contrário à idéia que se formara a respeito do assunto. Pode, ainda, estar além dos conhecimentos e da capacidade do médium.“ 

Um grave problema é o preconceito de alguns médiuns supostamente inconscientes, que atribuem a esse tipo de incorporação consciente ou intuitiva uma mediunidade fraca ou até mesmo fraudulenta. Dizem que por ser apenas uma intuição o médium não está realmente transmitindo a mensagem, porém eu posso também afirmar que essa mediunidade nas mãos de uma pessoa correta e de boa-vontade pode exercer mais benefícios que uma mediunidade inconsciente na mão de alguém sem o menor escrúpulo. 

“O papel do médium mecânico é o de uma máquina; o médium intuitivo age como um intérprete. Para transmitir o pensamento ele precisa compreendê-lo, de certa maneira assimilá-lo, a fim de traduzi-lo fielmente. Esse pensamento, portanto, não é dele: nada mais faz do que passar através do seu cérebro. É exatamente esse o papel do médium intuitivo.”

Aqui claramente notamos a importância do preparo do médium para ser um bom instrumento de comunicação. Somos interpretes do mundo invisível e devemos primar pela boa qualidade da comunicação. Quando o médium é mecânico ou inconsciente, o espírito consegue expressar-se em quase sua totalidade, usando de seus próprios conhecimentos, mas quando o faz de forma consciente ou intuitiva, precisamos ter pelo menos familiaridade com o que será abordado para que não bloqueemos a comunicação por motivações frívolas ou desconhecimento. Muito da mediunidade de audiência – que não seja voz direta – é um processo intuitivo que conhecemos como telepatia.

E quanto a mediunidade de Inspiração? 

Mediunidade de Inspiração

A mediunidade de inspiração é uma forma de intuição também, porém bem mais sutil, dentro do que estudei sobre as diversas faculdades mediúnicas, a mediunidade de inspiração é utilizada através da própria capacitação do médium. Enquanto na intuição um pensamento alheio ao seu conhecimento é colocado na sua mente ou uma impressão alheia a você parece “guiar” seus movimentos, na inspiração o que ocorre é uma exaltação de um dom que você já possui. Por exemplo, no caso de pintores, podem receber inspirações para aprimorar suas obras, porém quem está executando todo o trabalho de pintura e a técnica é o próprio pintor, o espírito desencarnado só está influenciando esse com aspirações para ele conseguir o melhor de si. Isso explicado de forma superficial e em linhas gerais, apesar de Kardec ir para um outro lado nessa reflexão, que eu também aceito e consigo analisar a veracidade e coerência do que ele propõe.

Vamos ver o que Kardec explica sobre a mediunidade de Inspiração no Livro dos Médiuns:

“182. Todos os que recebem, no seu estado normal ou de êxtase, comunicações mentais estranhas às suas idéias, sem serem, como estas, preconcebidas, podem ser considerados médiuns inspirados. Trata-se de uma variedade intuitiva, com a diferença de que a intervenção de uma potência oculta é bem menos sensível, sendo mais difícil de distinguir no inspirado o pensamento próprio do que foi sugerido. O que caracteriza este último é sobretudo a espontaneidade. Recebemos a inspiração dos Espíritos que nos influenciam para o bem ou para o mal.” 

A inspiração é uma das mediunidades mais usadas pela espiritualidade de fato e notamos que aqui Kardec pontua claramente o seu exercício para práticas maléficas também. Sabe aquela bebida a mais no happy hour? Pois bem, inspiração, mas de uma forma negativa. 

“Mas ela é principalmente a ajuda dos que desejam o nosso bem, e cujos conselhos rejeitamos com muita freqüência. Aplica-se a todas as circunstâncias da vida, nas resoluções que devemos tomar. Nesse sentido pode-se dizer que todos são médiuns, pois não há quem não tenha os seus Espíritos protetores e familiares que tudo fazem para transmitir bons pensamentos aos seus protegidos. Se todos estivessem compenetrados dessa verdade, com mais freqüência se recorreria à inspiração do anjo guardião, nos momentos em que não se sabe o que dizer ou fazer.” 

Aqui entramos no espinhoso tema sobre mediunidade universal ou TODOS SÃO MÉDIUNS? Leia nosso artigo falando sobre essa questão. 

“Que se invoque o Espírito protetor com fervor e confiança, nos casos de necessidade, e mais assiduamente se admirará das idéias que surgirão como por encanto, seja para auxiliar numa decisão ou em alguma coisa a fazer. Se nenhuma idéia surgir imediatamente, é que se deve esperar. A prova de que se trata de idéia sugerida está precisamente em que ela, se fosse da pessoa, estaria sempre ao seu dispor, não havendo razão para que não se manifestasse à vontade . Quem não é cego, basta abrir os olhos para ver quando quiser. Da mesma maneira, o que possui idéias próprias, sempre as tem ao seu dispor. Se elas não surgem à vontade é que ele precisa buscá-las fora de si mesmo.” 

A prova da mediunidade é algo tão sutil que os céticos e ateus possuem relances mediúnicos constantemente e não se apercebem. Vejam só, os nossos insights são inspirações de entidades exteriores, que influenciam nossos pensamentos para pensarmos em uma determinada situação e através do nosso discernimento chegarmos a uma conclusão. Por isso podemos dizer que somos guiados pelos espíritos constantemente. 

“Nesta categoria podem ainda ser incluídas as pessoas que, não sendo dotadas de inteligência excepcional, e sem sair do seu estado normal, tem relâmpagos de lucidez intelectual que lhes dão surpreendente facilidade de concepção e de elocução e, em certos casos, o pressentimento do futuro. Nesses momentos, justamente considerados de inspiração, as idéias abundam, seguem-se, encadeiam-se como que por si mesmas, num impulso involuntário e quase febril. Parece que uma inteligência superior vem ajudar-nos e que o nosso Espírito se livra de um fardo. 

  1. Todos os homens de gênio, artistas, sábios, literatos, são sem dúvida Espíritos adiantados, capazes de conceber grandes coisas e de trazê-las em si mesmos. Ora, é precisamente por julgá-los capazes que os Espíritos, quando querem realizar certos trabalhos , lhes sugerem as idéias necessárias. E é assim que eles são, na maioria das vezes, médiuns sem o saberem. Eles têm, não obstante, uma vaga intuição de serem assistidos, pois aquele que apela à inspiração faz uma evocação. Se não esperasse ser ouvido, porque haveria de clamar com tanta freqüência: Meu bom gênio, venha ajudar-me!

As respostas seguintes confirmam esta asserção:

— Qual a causa primeira da inspiração?

— A comunicação mental do Espírito.

— A inspiração não se destina apenas a grandes revelações? — Não. Ela se relaciona quase sempre com as mais comuns circunstâncias da vida. Por exemplo: queres ir a algum lugar e uma voz secreta te diz que não, porque corre perigo; ou ainda essa voz te sugere fazer uma coisa em que não pensavas. Isso é inspiração. Há bem poucas pessoas que não tenham sido inspiradas em diversas ocasiões.

 — Um escritor, um pintor, um músico, por exemplo, nos momentos de inspiração poderiam ser considerados médiuns?

— Sim, pois nesses momentos tem a alma mais livre e como separada da matéria, que então recobra em parte as suas faculdades de Espírito e recebe mais facilmente as comunicações dos Espíritos que a inspiram.”

Quero só pontuar outra categoria que Kardec define e que confundimos constantemente com inspiração ou intuição que é o pressentimento. O pressentimento é uma intuição de forma bem vaga, como ele pontua no Livro dos Médiuns, sobre acontecimentos futuros. Mas isso não é uma visão de um futuro fixo e imutável, mas apenas uma visão ampla sobre os desdobramentos do presente e as consequências de nossas escolhas atuais, no que irá se tornar no futuro. Algo que pode ser mudado e que quando manifesta-se espontaneamente é sempre atribuído ao concurso de um espírito para nos alertar para que mudemos nosso direcionamento e principalmente nossas atitudes. O Pressentimento não lhe dá poder de ver o futuro, mas de avaliar as consequências da vida, assim como os oráculos, tais como: tarô, búzios, runas e outros.

Conclusão

Com tudo que foi exposto acima, podemos concluir então de que a mediunidade consciente nada mais é do que uma mescla de diversas faculdades mediúnicas trabalhando em uníssono nas propostas de uma comunicação melhor. Podemos concluir que o estado das coisas são mais complexos do que só colocar itens pontuais ou criar listas infindáveis. 

E quem sabe trabalhar intuitivamente é muito melhor para a reforma íntima, pois aprendemos a nos podar, a nos melhorar e também podemos participar das comunicações mediúnicas como ouvintes e também como conselheiros.

Devemos deixar as coisas de lado, como preconceitos irracionais e aprender mais sobre o processo mediúnico, sem querer provar qual é a mediunidade mais poderosa. Afinal, avaliamos a mediunidade não pela sua forma, mas pelo bem que ela proporciona a todos os envolvidos, sejam médiuns ou assistidos.

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