Antes de mais nada, fica o alerta de que este texto é uma crítica ao sistema que estamos criando e não a pessoas específicas. Não se sinta ofendido, mas transporte isso para um nível de entendimento e reflexão. Podemos tirar muitas coisas benéficas quando tiramos o véu da vaidade e do melindre de nossas mentes.

Outro dia fui convidado a visitar um terreiro de amigos para ver como se davam as giras. Claro que prontamente disse que iria, pois acredito que quando me predispus a falar sobre Umbanda em um blog visto por tantas pessoas, também deveria me predispor a conhecer a realidade da Umbanda praticada pelas pessoas que me leem e seguem. Quando aceito um convite desses eu tento ir o máximo possível despido de preconceitos. Seria muito leviano de minha parte dizer que não tenho preconceitos, pois tenho certeza de que todo ser humano tem seu nível de intolerância e é exatamente por isso que estamos trabalhando numa seara espiritualista, para nos lapidar e nos melhorar.

Fomos a reunião e entrei no espaço muito bem arrumado, aconchegante, com uma disposição muito interessante entre o bazar-lanchonete, a assistência com cadeiras para várias pessoas e o próprio Congá do terreiro. O clima era acalentador, com luzes mais baixas e as pessoas muito simpáticas e receptivas. Porém, algo nesse espaço me chamou a atenção mais do que devia. Em uma das paredes pude perceber diversos diplomas e certificados de vários cursos, que o Pai da casa havia feito. Achei aquilo no mínimo estranho, mas deixei acontecer para passar ao atendimento e tudo mais. Porém, o atendimento não é o escopo desse texto.

Fiquei com isso na cabeça! Aquela parede cheia de provas de “conhecimento e sabedoria” sendo exposta para que todos soubessem que o pai de santo era PREPARADO para a função que estava desempenhando. Passou o tempo e isso ficou em algum escaninho da minha memória arquivado.

Então, dentro das minhas andanças pela Internet, me enviaram um convite para ver um blog sobre Umbanda, que prometia falar sobre diversas vertentes. Claro, que como um blogueiro de mesma temática, quis conhecer, pois acredito que quanto mais blogs sobre isso temos, melhor é divulgada a Umbanda, porém o que me chamou a atenção foi o fato de que na barra lateral, o autor do blog exibia também diversos diplomas e certificados de cursos que havia feito. Na hora lembrei do terreiro que havia visitado e da parede forrada de certificados e isso me levou a uma reflexão.

Será que na Umbanda dos nossos tempos é necessário e fundamental provar capacitação técnica para exercer a religião? Cheguei até a devanear pensando que em um futuro não muito longínquo, para praticar Umbanda, deveremos ter Curso Superior e se quisermos ser Pai-de-Santo, deveremos possuir bacharelado de teologia, um mestrado em ciência da religião e até mesmo um doutorado em Umbanda, o que deu origem ao título desse artigo.

Será que o sertanejo simples ou a senhorinha que trabalha de forma simples não poderá praticar a Umbanda? Será que estamos tentando elitizar a mesma, através da desculpa de informação e conhecimento? Sabemos que a educação é fundamental em todos os setores da sociedade, porém a Umbanda foi criada para ser a voz dos espíritos para todas as pessoas e o acalanto para os espíritos menos evoluídos e também para nós encarnados, sem instrução ou com pouca instrução. Seria um nivelador social, onde todos teriam voz e seriam irmãos.

A educação e o estudo deve ser sempre utilizado – a meu ver – para o progresso da humanidade. De nada adianta eu me arraigar de conhecimentos se os mantiver comigo ou não colocar em prol da comunidade. Estou sendo egoísta apenas. Infelizmente sabemos que a maioria das pessoas que fazem algum curso de capacitação superior como um doutoramento¹, acabam entrando numa vibração de vaidade, se julgando melhor do que outros. Isso não é culpa do doutorado, mas do que nossa sociedade acredita que é ser doutor. Parece-me que isso está sendo transportado para a Umbanda. As pessoas simplesmente, ao invés de pensar na mensagem que você está passando, te confronta e questiona de ONDE vêm sua AUTORIDADE para falar tal coisa?

Dentro do que aprendi – muito baseado na doutrina espírita – a necessidade do ser humano é de evoluir tanto intelectualmente, quanto moralmente. Então através da evolução intelectual iremos aprender muitas coisas, iremos absorver conhecimentos e maturá-los para que se transformem em sabedoria. Porém, nada disso é válido, se não tivermos também a evolução moral, que é a empatia pelo sofrimento alheio, o entendimento do caráter, da honra, da caridade e da abnegação. Existem diversos espíritos que evoluem intelectualmente, mas que se encontram ainda presos nas trevas, no umbral e nas zonas negativas, isso é o caso da maioria dos Exus. Porém existem espíritos simples, que não aprenderam tanta coisa – intelectualmente – mas que possuem uma moral elevadíssima, o que os coloca em um patamar de bons espíritos.

O que quero deixar aqui como reflexão é que só o conhecimento pura e simplesmente não te fará um bom médium ou um bom dirigente. Até entendo que esses exemplos que citei no decorrer do texto, devem ter sido feito para dar credibilidade ao trabalho que vem sendo realizado, ou seja, não foi de maldade ou por simples cupidez, mas por quererem demonstrar que estavam capacitados a estar fazendo o que estavam fazendo.

Deixemos então um pouco de espaço para nossa evolução moral também, pois ela é importante. Aliás, é bem mais importante que o conhecimento, pura e simplesmente.


¹ Não estou generalizando, é apenas o senso-comum. Eu acredito que a educação é importantíssima e também me valho de muitos textos acadêmicos para basear meus estudos, tanto é que temos uma doutora que faz a revisão de todos os textos do blog, quando há alguma questão científica.

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