O Carnaval vêm aí e com ele muitas pessoas cometem vários excessos, mas não é sobre isso que iremos abordar nesse tema. Quero de fato comentar a visão da Umbanda mais tradicional para o período pós-carnaval: a Quarta-Feira de Cinzas e a Quaresma.

Para saber sobre o Carnaval e suas relações energéticas negativas, leia o artigo: Carnaval: o que acontece?

Como todos sabem, depois dos quatro dias de festa e comemoração, ocorre a chamada quarta-feira de cinzas. Esse dia marca o início da quaresma para os cristãos e tem o propósito de relembrar a efemeridade da vida para todos. Na bíblia encontramos algumas passagens onde podemos ver que são jogadas cinzas nas cabeças das pessoas que se arrependeram dos seus pecados.

Então Tamar tomou cinza sobre a sua cabeça, e a roupa de muitas cores que trazia rasgou; e pôs as mãos sobre a cabeça, e foi andando e clamando.
2 Samuel 13:19

Para um imundo, pois, tomarão da cinza da queima da expiação, e sobre ela colocarão água corrente num vaso. Números 19:17

E eu dirigi o meu rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum, e saco e cinza. Daniel 9:3

Apascenta-se de cinza; o seu coração enganado o desviou, de maneira que já não pode livrar a sua alma, nem dizer: Porventura não há uma mentira na minha mão direita? Isaías44:20

Como o carnaval é visto como a festa da carne, onde diversos “pecados” são cometidos, a quarta-feria de cinzas seria o início do arrependimento dos pecados cometidos nesse período. Mas nós umbandistas, não acreditamos no pecado com o viés católico, logo seria incoerente “celebrar” tal dia, mas não é. Apenas modificamos a sua forma e sua simbologia para nós.

É tradicional então no dia de quarta-feira de cinzas, fazer uma defumação em casa e ao invés de jogar fora as cinzas resultantes, levá-las para o terreiro, que geralmente tem uma gira especial para a celebração de Cinzas, onde irão ser colocadas conjuntamente com as cinzas dos demais membros do terreiro e utilizadas – após consagração – para CRUZAR a fronte e os punhos dos filhos de fé.

Isso demonstra uma proteção e o início do período de preceito da Quaresma.

A quaresma é encarada de forma diferente conforme a tradição de Umbanda que se está inserido. O mais ordinário (comum) é ver terreiros fechando durante esse período e não fazendo seus trabalhos. Alguns outros abrem seus trabalhos, mas existem certas regras a serem observadas:

  • Cobrem as imagens do Congá e o próprio Congá com um pano branco.
  • Não fazem giras de esquerda.
  • Não tocam os atabaques e não batem palmas.
  • Não fazem trabalhos com entregas e oferendas.
  • Não comer carnes vermelhas durante a quaresma toda.

E muito mais.

Dentro do que tenho observado nas minhas práticas, é um contrassenso total não trabalhar nesse período. Justamente após os “excessos” cometidos é quando as pessoas mais precisam de se reencontrar a sua própria espiritualidade, não se pode virar as costas. Além disto, muita coisa acontece em quarenta dias (ou quarenta e seis, depende da contagem), não podemos deixar de praticar a caridade nesse intervalo. Porém, concordo com alguns aspectos, o caso de não se fazer oferendas e entregas; assim como não se trabalhar com a esquerda nesse período.

A casa em que trabalho, absorve esses elementos e também não tocam os atabaques. Mas o Congá fica aberto normalmente e continua-se o atendimento caritativo. Tudo volta a sua regularidade após da celebração de Páscoa.

Seja como for, se há ou não implicação energética nisto, devemos sempre respeitar a tradição. As incorporações continuam a ocorrer, mesmo sem o concurso do atabaque, que é um facilitador natural. Por um lado é até bom, pois aqui poderemos ver quem realmente precisa ou não de uma ferramenta para manifestação do espírito guia. Serve de  uma confirmação para quem conseguiu e um alerta para quem não conseguiu.


*** Para quem quiser saber mais sobre a visão católica acesse a Catholic Encyclopedia (em inglês).

 

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