É possível ver a manifestação de um preto-velho diferente nos terreiros, ele chega de forma mais altiva, sem se curvar tanto e dá o nome de João de Camargo ou Pai João. Porém, antes de se tornar um guia-espiritual, João de Camargo foi  um religioso e milagreiro, chegando a ser considerado um Santo Popular.

João nasceu em Sarapuí a 05 de Julho de 1858, ou seja, período em que a escravidão ainda era vigente no Brasil. Viveu a maior parte da sua vida na cidade de Sorocaba, no estado de São Paulo e lá também fundou a Igreja do Bom Jesus do Bonfim das Águas Vermelhas ou simplesmente, Igreja das Águas Vermelhas.

O Camargo de seu nome é uma herança de seu dono, pois João nasceu escravo. Trabalhou como cozinheiro, agricultor, oleiro e até foi militar. Casou-se com Rosário do Espírito Santo, vivendo com ela por cinco anos.

Mas o que chama a atenção de João de Camargo é sua influência religiosa. Pode-se dizer que ele praticava um sincretismo muito interessante entre o catolicismo, as crenças populares e o culto aos Orixás.

Ganharia, de seus devotos, o apelido de Nhô João. João de Camargo sofreu desde cedo tanto com sua mediunidade quanto com sua doença, o alcoolismo. Esse mesmo alcoolismo que o impediu de começar o quanto antes a trabalhar de forma missionária. É dito que em 1905 durante o percurso pela Estrada da Água Vermelha, estava cumprindo uma obrigação religiosa, acendendo velas ou rezando junto a cruz do menino Alfredinho – simbolizava o local onde esse menino havia morrido, e como era costume, colocava-se uma cruz. Por Alfredinho ser ainda criança, a cultura popular o colocava como uma espécie de santo ou anjo popular – começou a reparar com estranhos acontecimentos: luzes, vozes, manifestações físicas, entre outros.

João, era médium e uma das suas faculdades era a clauriaudiência, ou seja, a faculdade de ouvir os espíritos. Uma dessas vozes trouxe uma mensagem impondo que ele deveria parar de beber, pois isso impedia ele de continuar a missão que fora designada e escolhida por ele.

Nhô João, continuou a ouvir as vozes e não havia largado a bebida, só fazendo após ouvir novamente a imposição de outra voz por volta de 1906. Também fora lhe dito que ele deveria construir a capela da Água Vermelha, onde iria atender de forma caritativa todos aqueles que precisavam de cura.

Chegou a ser processado em 1913 pela prática de curandeirismo, sendo absolvido logo depois. Fundou a Associação Espírita e Beneficente Capela do Senhor do Bonfim, a fim de proteger o seu trabalho e evitar novos processos.

João, possuía dons mediúnicos de cura, de clariaudiência e de clarividência. Sendo uma das mais importantes figuras dentro do cenário religioso brasileiro. Figura extremamente carismática e que encontrou na Umbanda exatamente a continuidade do trabalho que ele já praticava encarnado. Os espíritos que falavam com Nhô João, iam de padres, crianças a até mesmo orixás, como Exu. Alguma semelhança com a fundação da Umbanda?

Desencarnou em Sorocaba, no dia 28 de setembro de 1942. Deixando o legado da Igreja da Água Vermelha e também do trabalho em prol dos necessitados. Existem inúmeras biografias de Nhô João, assim como um filme, chamado Cafundó, protagonizado por Lázaro Ramos. O filme exagera em certas partes, mas traz uma representação artística muito interessante da vida de João de Camargo e com certeza merece ser visto e revisto.

Dentro da Umbanda, Nhô João ou Pai João da Caridade, trabalha tanto na linha de Pretos-Velhos quanto na de Saakangas, um povo esquecido nas Umbandas modernas.

Saravá meu bom Nhô João e Saravá a todas as Almas Santas e Benditas!

Fontes: 

 

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