Zé Pelintra sempre foi um personagem que dominou meu imaginário desde tenra idade, eu o via sempre guardando as portas das lojas de artigos religiosos, com a tez negra, sorriso simpático, mãos geralmente unidas, levemente curvado, terno alvo, gravata vermelha e aquele olhar que te acompanha e parecem atravessar você. Posso confessar que cheguei a muitas vezes temer essa figura, sem ter a compreensão de seu universo, que é extremamente complexo e rico.

Antes de assumir o manto do Malandro, Zé Pelintra é um Mestre do Catimbó, religião fundamentada através do conhecimento da Jurema e da Pajelança Cabocla, com influências religiosas da Europa. Conhecedor do poder da árvore-mãe e chamado de Doutor pela sua sabedoria. Ficou tão popular que acabou por integrar várias outras correntes espiritualistas, como a Umbanda.

Mas Zé Pelintra é tão arrojado e flexível que se adaptou em diversas linhas, antes mesmo da criação da sua linha mais consagrada, dos Malandros; Já apareceu como Exu, como Baiano, como Mestre da Jurema e até em giras de Preto-velho.

Alguns dizem que ele serve a Oxalá, outros a Ogum. Eu acredito que é mais pra Ogum, trazendo uma certa flexibilidade que geralmente falta para essa linha. Mestre da Navalha -pode curar ou não – capoeirista e boêmio. É uma figura extremamente polêmica, mas acima de tudo encantadora.

Se popularizou tanto que o Zé Pelintra passou a ter trabalhos focados só nessa linha, chamando apenas as entidades com esse nome simbólico.

Essa entidade tem uma característica marcante que é o bom humor, sempre através de conversas vivas e cheias de energia consegue aconselhar até o mais embrutecido consulente. Com o gingado de  bom malandro contorna as situações mais complicadas possíveis. São associados aos jogos de azar, trazendo como um de seus apetrechos os dados de seis lados e as cartas de baralho. Na verdade Zé Pelintra não é um jogador inveterado, mas ele demonstra apenas que através da fé pode manipular aquilo que chamamos de destino, trazendo uma mudança do jogo para algo mais favorável para nós.

A tradição nos conta que Zé Pelintra chamava-se em vida José Phelintra, e que nasceu no povoado de Bodocó, em Pernambuco. Alguns dizem que ele também viveu na cidade do Rio de Janeiro onde adquiriu seu estilo malandro de ser e ainda dizem que seu túmulo está na sua cidade natal. Seja mito ou seja verdadeiro, o importante é a mensagem que Zé Pelintra traz para nós, que não importa o desafio devemos sempre ser flexíveis, nos adaptar e manter o sorriso no rosto.

Zé Pelintra ficou tão popular que até apresenta alguns programas em rádios e webrádios, além de ter alguns livros publicados sobre sua história.

Com tanta história, folclore e carisma, Seu Zé tem seu lugar no nosso coração.

“Ele é malandro

Um ser trabalhador.

Ele é malandro

Um ser trabalhador.

 Tem um chapéu de Panamá

Um terno branco

E um anel de doutor.”

 

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