A quartinha é um elemento bem interessante dentro das práticas da Umbanda, porém a sua origem remonta a outras práticas religiosas e seu entendimento dentro da Umbanda pode ser bem amplo e diversificado.

Por exemplo, dentro dos fundamentos passados para mim, a quartinha é um ponto de imantação e oração, como se fosse o corpo do médium e um ponto de trabalho para a coroa mediúnica deste médium. Desta forma uma quartinha bem cuidada resulta em um médium bem cuidado e uma espiritualidade equilibrada.

A quartinha é um pequeno vaso que pode ser feito de louça (porcelana) ou barro, tendo ou não “asas”. As diferenças básicas se dão pela sua estrutura e pelo seu formato, sendo que pela tradição usamos as quartinhas sem “asas” para os homens e as quartinhas com “asas” para as mulheres.

Claro que aqui nós temos um entendimento partindo da biologia do indivíduo, contudo eu encorajo a meus filhos usarem a quartinha conforme a sua cabeça e a sua identidade de gênero, além da biologia pura e simples.

TIPOS E CORES DE QUARTINHA

Existem várias cores de quartinha disponíveis quando o material é a louça, porém dentro da Umbanda praticamente usamos só a Branca ou a de Barro.

Quando falamos de quartinha de barro ainda há uma situação a ser pensada, se ela será envernizada ou não. Particularmente eu uso as quartinhas de barro para forças telúricas, ou seja, para Exu, Pombagira, Omulu e Nanã.

E como o propósito da quartinha é ter líquidos dentro dela, a gente acaba preferindo a envernizada, pois o barro “bebe” a água ou o líquido que colocamos na quartinha, sendo que em alguns casos pela porosidade do barro é capaz até mesmo da água “escapar”.

O QUE SIGNIFICA REALMENTE A QUARTINHA?

A quartinha dentro dos meus fundamentos é basicamente a representação do médium. Uma quartinha cheia de água e sempre cuidada reflete na saúde mental, material e espiritual do médium.

No Chão de Jorge o preparo das quartinhas se dá por instrução do Vovô Francisco do Congo, onde ele consagra as quartinhas para os médiuns incorporantes, ou seja, cambone não precisa de quartinha e tampouco uma pessoa não médium, segundo essa tradição.

Claro que isso se dá pela questão da quartinha dentro do Chão de Jorge e não em todos os terreiros, que tem seus próprios fundamentos.

Preparamos a quartinha limpando a mesma com água corrente e após isso perfumando-a com perfume de alfazema ou um extrato de ervas, para as quartinhas de louça. Para o preparo das quartinhas de Exu, nós limpamos com água corrente e com marafo de boa qualidade.

Após a limpeza é colocada água para alimentar a quartinha e também um cristal de quartzo transparente representando a centelha divina de cada um dos médiuns. Fechada a quartinha ela deve ser iluminada sempre, para que a luz desta sirva de guia para o espírito do médium, ou em outras palavras, para dar energias ao médium.

Existem outras formas de trabalhar com a quartinha que são diferentes, dentre elas existe as quartinhas de proteção, as quartinhas para Orixás e também a quartinha com uso de mais elementos, como é o caso do Obi e Orobo.

Dentro das práticas comuns de feitura de quartinhas podemos encontrar aquelas em que é colocado um pedaço do cabelo do médium, dentro de um morim branco (tecido branco) além de um obi cortado em quatro pedaços, sendo que um desses pedaços tem que ser mastigado pelo médium e cuspido dentro da quartinha.

Algumas pessoas fazem o mesmo com o orobo, mas o obi é mais costumas de se encontrar nessa função.

LÍQUIDOS QUE SE OFERECEM A QUARTINHA

Novamente eu evoco nome do Vovô Francisco do Congo para explicar o que ele faz com as quartinhas. Ele diz que as mesmas são elementos vivos e que assim como a alma precisam ser sempre limpas e refrigeradas, por isso da água em seu interior.

Os médiuns devem sempre completar a água e trocá-la periodicamente de Lua em Lua, ou seja, a cada mês. Além disto, ele é terminantemente contrário ao uso de outras bebidas dentro da quartinha como Marafo, Vinho, Vinho de Palma, Dendê e afins, que acabam sendo colocadas na quartinha.

Mesmo na quartinha da Esquerda, de fundamento de tronqueira, o que há dentro é apenas água, de preferência de fonte mineral.

Mas claro que existem muitas escolas e fundamentos para o uso de quartinhas com outros líquidos, mas que não fazem parte da tradição por mim apresentada.

QUARTINHA SECA?

Há quem diga que quartinha seca atrasa a vida! E estão certos… Contudo devemos pensar que existem fundamentos de casas onde a quartinha sempre será seca, como era o caso da casa em que fui feito.

Lá o fundamento da quartinha tinha mais um espectro de imantação das pessoas atendidas do que propriamente para os médiuns que a faziam. Não havia um ritual específico para fazer a quartinha, sendo que todo médium deveria ter uma no ponto, onde seriam colocados os nomes das pessoas atendidas pelas entidades no decorrer do ano de trabalhos espirituais.

Ainda existem quartilhões, ou seja, quarta grandes onde eram transferidos os nomes quando a quartinha estava cheia, assim como restos de mirongas e itens para despachar. Esses quartilhões ficavam no alto do Peji, onde eram sempre iluminados pelas luzes do Congá.

Nos trabalhos de mata ou de praia esses nomes eram despachados, dando espaço para um novo ano de atendimentos espirituais.

Enquanto os nomes permaneciam nas quartinhas e nos quartilhões, era como se os guias estivessem trabalhando por aquelas pessoas, emanando suas energias benéficas até elas.

MAS PARA QUE SERVE ENFIM A QUARTINHA?

Serve para dar uma responsabilidade maior ao médium para que ele entenda o que é exatamente o trabalho espiritual. Não é apenas incorporar, mas tratar de si também.

Lembrar de cuidar da quartinha é lembrar de cuidar de si mesmo! Não deixe sua quartinha secar, pois ela pode ser a representação da sua alma.


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