Estou escrevendo esse texto sobre o sangue, depois de ter recebido de alguns leitores um questionamento muito comentado no meio espiritualista, principalmente aqueles ligados de alguma forma aos cultos afro-brasileiros.

Nós podemos usar sangue nos trabalhos de Umbanda?

Eu vou comentar sobre esse assunto, já antecipando que ele pode ser bem indigesto para algumas pessoas, mas que espero – de coração – que elas procurem compreender que não estou criticando religiões alheias, só estou colocando as coisas como elas são.

A Umbanda, não pratica qualquer tipo de sacrifício animal e por consequência não podemos usar do sangue para essas práticas. Isso já foi algo definido pelo fundamentador da Umbanda no plano material, o Caboclo das 7 Encruzilhadas. Porém muitos sacerdotes defendem seu uso, dizendo que o uso é permitido e que nós seríamos hipócritas por não usar o elemento animal em oferendas, já que somos carnívoros.

Aqui não vou defender veganismo e vegetarianismo, pois não sou nutrólogo e não tenho bases para isso, e eu mesmo não sou vegetariano. Logo, vou me ater as questões doutrinárias e a lógica pura e simples.

Se o fundamentador da Umbanda disse que não se deve fazer isso, como uma coluna central da religião de Umbanda, praticar tal ato infringe suas determinações e nos leva a crer que a pessoa está praticando qualquer outra religião, mas não Umbanda.

Essa confusão é algo comum no meio Umbandista, pois é algo fundamental dentro das religiões africanas – geralmente de cultura nagô – e também dos candomblés no Brasil. Essa prática foi incluída forçadamente dentro das sessões de Umbanda, por volta das décadas de 1940-1950, com a invasão de ex-membros de candomblés de origem nagô dentro da Umbanda.

Ou seja, misturaram duas religiões, criando a famosa Umbanda Traçada, o que já se perdeu em essência da Umbanda original. Hoje vivemos em um mundo pluralista e universalista, onde só essa minha afirmação soará como preconceituosa (apesar de não ser) e com certeza será motivo de críticas, mas as coisas são o que são e não podemos simplesmente nos iludir. Ninguém está dizendo que a religião misturada não é boa, que é errada ou qualquer coisa do tipo. Só estou dizendo que na origem, isso está errado!

Também não adianta defender que devemos usar isso pois nos alimentamos de animais. Oras, são propósitos diferentes. Antigamente nos cultos de nação e em alguns candomblés primitivos, realmente se faziam os sacrifícios e se dividia a carne para a comunidade. Muitas vezes era a única fonte de proteína que os negros escravizados viam em muito tempo. As vísceras, o sangue e outras partes dos animais eram queimadas em holocausto aos “deuses” ou orixás. Mas hoje em dia, ninguém faz isso…

Muitos centros de culto nem sabem mais como fazer de forma apropriada o corte, não possuem ashoguns e ainda mais centros umbandistas que não possuem essas características dentro das suas práticas.

Mas existe ainda uma outra justificativa pior: O Sangue possui muito Axé!

Só a palavra Axé já demonstra a origem da tradição de corte animal, pois é uma palavra usada na cultura yorubá para dentre outras coisas designar força ou poder. Mas a Umbanda sofre de uma influência bantu, em seu pilar africano, ou seja, não usariam essa palavra e sim Mojo (lê-se Moyo).

Eu me pergunto seriamente como pode uma religião como a Umbanda que prega a prática da caridade e a simplicidade, a promulgação do bem, utilizar de um ritual onde se extirpa a vida de um ser para angariar poder. Será que não existe algo mais forte do que isso? Apesar que eu não entendo como o sangue morto (proveniente da morte) pode ter essa força “positiva”.

Aqui podemos cair – e sempre caímos – na afirmativa: O que importa é a intenção.

Bom, pode ser mesmo. Mas vamos ser corretos, qual é a intenção de matar um outro ser vivo que não para subsistência?

Bom, dentro do que eu aprendi, não se usam elementos animais na Umbanda. Principalmente, vísceras e sangue. A quimbanda até recebe certos elementos animais, mas não de forma desmedida ou em qualquer pedido que seja. Tem gente que está matando frango simplesmente para curar uma dor de dente.

Não consigo compreender isso dentro da prática umbandista e também não consigo aceitar que “sacerdotes” de Umbanda, promulguem isso dizendo que é algo de Umbanda.

Assista também nosso Pensamento Extra 01: Sangue na Umbanda Não!

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