A Internet é um meio incrível de disseminação de informação, porém da mesma forma é bem dificultoso fazer a triagem do que é um bom texto e do que não é um bom texto. Hoje podemos ter acesso a muita informação, mas será que toda informação é realmente boa?

Eu, dentro de muitos dos objetivos traçados por mim e pela minha mentoria, acabo por me cobrar demais em trazer textos concisos, com pesquisa e principalmente com vivência de minha parte, pautado nas tradições em que sou praticante, mas sem deixar de lado a visão sócio-antropológica de um cético.

Também como um esforço editorial incrível, acabo encontrando por aí muita coisa que tem uma qualidade duvidosa e, infelizmente, acabo me metendo em confusão ao criticar aquela obra ou aquela perspectiva, pois muitos confundem a crítica a um texto – certo ou errado – como um ataque pessoal a honra de alguém.

Isso é algo que nos desmotiva a continuar, tanto é que nas últimas semanas repensei seriamente se deveria continuar com a frequência de textos no blog e de vídeos no YouTube (o podcast continua firme com sua frequência, pois o público tem uma recepção diferente a essa mídia)*.

Perguntei no Espiritualidade em Estudo sobre que temas deveria escrever e recebi diversas sugestões, porém mais de 70% já havia sido atendida com textos antigos e que muitos nem sequer viram ou tiveram o trabalho de procurar no blog (temos até uma barra de pesquisa, experimente digitar uma palavra e você encontrará todos os artigos em que tal termo aparece).

Não só isso é desmotivante para o criador de conteúdo como a baixa incidência de feedback – sejam eles quais forem. Claro que após a provocação feita, muitos começaram a comentar e dar seus pontos de vista.

É EXATAMENTE ISSO QUE EU DESEJO!

Quero fomentar um movimento para ir contra essa inércia mental em que nos colocamos muitas vezes. Não procuro aqui me fazer de vítima e trabalhar dessa forma para conseguir o engajamento, o que quero é ver que vocês estão usando essas informações, debatendo e até mesmo se contrapondo ao que digo, pois estão PENSANDO LIVREMENTE. Justamente o pensamento livre que é o foco de toda religião espiritualista… (sem falar nos que procuram o caminho do Mago).

Dentre esses esforços, fui convencido pelo amigo Felipe Matos – do excelente blog No Mundo das Umbandas – a contribuir com uma nova opção de informação que surgiu, uma revista digital intitulada: Revista do Leitor Umbandista. Revista essa que é uma realização da Umbanda Vale e do blog do Leitor Umbandista coordenado pelo Luciano Pereira.

Essa revista é um compilado de opiniões de diversos autores de diversas vertentes. Posto isso, já alerto que as opiniões podem ser conflitantes e isso é algo extremamente positivo. Essa é uma oportunidade e tanto para que você exercite seu discernimento e saiba separar as coisas. Aliás essa foi uma das primeiras lições por mim aprendida no caminho de Umbanda. Seu Caboclo 7 Matas disse certa vez:

“Estude de tudo, ouça tudo, mas faça tudo passar pela sua peneira. Se algo lhe servir, ótimo. Se não lhe servir, deixe ir embora!”

[EDITADO] PRESTE MUITA ATENÇÃO NO QUE ESTÁ SENDO ESCRITO, POIS ISENÇÃO É ALGO COMPLEXO. 

Abaixo trago meu artigo presente na revista, porém recomendo a leitura dos demais. Além do óbvio exercício de discernimento, há também a possibilidade da independência editorial com um projeto de cunho misto, sem as amarras do sistema ortodoxo de publicações. Bem vindos a uma nova era de informação e espiritualidade.


A Umbanda Tradicional

Existe uma Umbanda Tradicional? Posso afirmar, sem medo de errar, que não. O que existem são Umbandas Tradicionais ou de Tradições.

A Umbanda por ser uma religião liberta e descentralizada, não encontra resistência para a sua adaptação e sua mutabilidade. Mesmo que consideremos como ponto de partida da religião a data de 15 de Novembro de 1908, pelas mãos do médium Zélio Fernandino de Morais, intuído e inspirado pelo seu mentor o Caboclo das 7 Encruzilhadas, podemos ainda reparar que as práticas de Umbanda tomaram diversos rumos.

Teríamos posteriormente a Zélio outras tendas sendo formadas, derivadas da tenda primeira – Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade – que não seguiam a linha tudo aquilo que era ditado na TENSP. Além disso podemos encontrar a história da Umbanda do Caboclo Mirim, conhecida por alguns como Tenda do Primado, Umbanda Esotérica (outra anterior a de W.W. da Matta e Silva) e Umbanda Mirim.

Se formos considerar as casas formadas antes então de 1908, podemos nos perder e até muitos perderem a fé, por considerarem a fundação datada de novembro de 1908. Fundamentalizar algo ou definir um ponto de partida oficial não é o mesmo que dizer que algo foi criado a partir dali. Podemos entender que nossa nação também fora fundamentada ou organizada como conhecemos a partir de 1500 e seu “descobrimento”, contudo não podemos negar que já havia aqui diversas sociedades coexistindo e todo um sistema de culturas e crenças, logo o local não fora descoberto. O mesmo se dá quando se diz de Umbanda, as práticas já existiam, mas não eram formalizadas ou formatadas como acabamos por ver após a aparição do Caboclo das 7 Encruzilhadas.

Então, justamente por isso, recorro ao exercício afirmativo de que existem diversas Umbandas Tradicionais, pois tradição é algo passado de geração a geração. Como a Umbanda é uma religião formada em núcleos e o fundador do terreiro tem grande prevalência no que ali é praticado, podemos afirmar que toda casa segue uma Umbanda Tradicional, derivada da tradição do seu fundador espiritual. Logo na Casa Ogum Beira-Mar, se o caboclo for seu Beira-Mar e ele ditar as regras, será tão tradicional quanto na Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, onde o Caboclo das 7 Encruzilhadas ditou a sua Umbanda.

Então devemos sempre nos focar em traduzir a tradição por assim dizer. Em outras palavras, devemos nos referir sempre as muitas vertentes como grandes orbes de ensinamentos que derivam de tradições trazidas por seus guias fundadores e que em nada competem ou concorrem com as demais vertentes.

Os pontos riscados híbridos e cursivos da Umbanda Esotérica são tão válidos quanto aqueles inspirados pela cultura bantu, da mesma forma os Orixás tem tanto espaço quanto os Santos, desde que se saiba interpretar esses personagens e entidades dentro do contexto de cada uma das tradições.

Mas acima de tudo, a maior tradição legada é a de Caridade, Humildade e Simplicidade. Acredito que isso é o cerne da questão quando vamos definir se “algo” é umbanda ou não é umbanda. Havendo essa base tríplice, podemos afirmar que é Umbanda!

Originalmente publicado na Revista do Leitor Umbandista nº 01 – 2018. 


* Ainda estou pensando seriamente sobre essa frequência. Atualmente publicamos um novo texto no blog todas as segundas-feiras e também veiculamos um novo vídeo no YouTube quinzenalmente, alternado com um episódio do podcast Papo na Encruza.

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