Vocês já repararam como a espiritualidade e os temas espirituais estão em moda desde a década de 1950 em diante? Parece que as pessoas estão procurando redescobrir o transcendental. Isso seria muito incrível se não gerasse tanta alienação e loucura, ou seja, a galera tá pirando INSANAMENTE!

Ter práticas espirituais não é simplesmente aceitar tudo, não precisamos ver gnomos embaixo dos cogumelos, falar com fadas em meio às árvores de um bosque, conversar com pedras, pois elas são os seres mais antigos do planeta, achar que tudo é místico e lindo e viver completamente desligados da realidade que nos cerca. Isso se chama alienação e categoria uma patologia terrível, você está sendo fanático por questões “new age”.

O movimento New Age, no Brasil ficou conhecido como Nova Era, tem como principal pilar a fusão de vários ensinamentos de escolas diversas de campos metafísicos, espiritualistas e até mesmo pseudociência, para  criar uma visão diferente, como uma consciência global. Acredita que todo mundo pode viver como os Elfos do Senhor dos Anéis (J.R.R. Tolkien) em relação simbiótica com a natureza que os cerca. Esse movimento tomou muita força entre as décadas de 1960 e 1970, baseando-se bastante em teorias e postulados teosóficos (Dion Fortune, Helena Blavatsky, C.W. Leadbeater, entre outros) e tem como hino a música Imagine de John Lennon.  Em teoria são bem interessantes e até mesmo utópicos, imaginar que teríamos uma tolerância universal, sem nem sequer uma disputa ou  briga, que haveria uma compreensão linda entre todos seres humanos e que isso daria início a Era de Aquário.

Esse movimento trouxe popularidade para práticas esotéricas e ocultistas, ganhando bastante divulgação, como técnicas que usavam da Yoga, da Meditação, da Astrologia, da leitura de Tarô e muitas outras técnicas esotéricas. Porém, a visão dessas técnicas era sempre mística, pouco prática e cercada de filosofias do chamado movimento “PAZ E AMOR”. Essas atitudes associadas ao total desinteresse pelo científico e racional, ganhou vários simpatizantes que não precisavam mais racionalizar o mundo e apenas o sentir. Porém, quando isso ocorre, deixamos de usar um dos pilares básicos do ser humano e acabamos nos enviesando e polarizando. Quanto mais nos afastamos de um polo, mais nos aproximamos do seu oposto, porém por um paradoxo, estamos também nos aproximando cada vez mais do ponto de partida.

No Brasil, a coisa é ainda pior, por sermos um povo culturalmente e religiosamente abertos. Aceitamos ir na missa de domingo, assistir o culto evangélico na quarta-feira e ainda ir bater cabeça no congá nas sextas-feiras, sem prejuízo de nossa própria religiosidade. Isso acarreta uma população sincrética e aberta a novas influências, mas também dá lugar a muita piração, o que o povo por aí do meio Ocultista-Pop chama de “esquizoterices”.

Agora as novas modas são o Xamanismo e o Sagrado Feminino! Melhor ainda quando associam o Xamanismo do Sagrado Feminino, aí tudo fica lindo.

Entendam, não sou nem contra o Xamanismo e muito menos contra o empoderamento feminino. Porém quando associam essas coisas e as misturam de forma descontextualizada da sua própria cultura, criam uma aberração que é muito pior do que o padrão vigente. Viram fanáticos do “sangue menstrual vertido a mãe terra”, mas não entendem de fato a simbologia, o poder do sangue feminino e nem sequer quem de fato é a Grande Mãe Terra. Criam estandartes e bandeiras políticas e as revestem de bandeiras ideológicas e religiosas como um resgate ao passado, às origens e ao poder feminino. Com isso estão gerando um desserviço às mulheres de antigamente, que realmente entendiam o que estavam defendendo.

O movimento Matriarcal compreende a necessidade da polarização e do dual, assim como é o Xamanismo real e original e não essas “vibes new-age pop” que desvirtuaram completamente os ensinamentos e enlataram um conhecimento, assim como fazem com séries e músicas americanas. Outro dia, tive que ouvir vários “descabimentos” de práticas Xamânicas de uma colega de classe, com uma vontade insana (minha polarização para o irracional) de falar a ela que ela estava alucinando, que aquilo era piração e deslumbramento e que ela deveria estudar a origem das coisas.

O aspecto Masculino e Feminino, dentro de uma visão Matriarcal é compreendido como pólos energéticos a complementação do oposto e a dualidade, lindamente explicada pela Medicina Chinesa e o Taoísmo por meio do Yin e Yang. A mulher ganha postura de destaque por poder gerar vida, porém ela não o pode fazer sem um impulso externo. Já o homem é visto como aquele que pode dar um impulso externo, mas não pode gerar vida por si. Entendendo assim que um precisa do outro e o ciclo se completa.

Outra questão que de certa forma me incomoda é a procura incessante por práticas xamânicas “importadas”. Não entendo a necessidade de procurar em filosofias nativas algo que não é nossa realidade no nosso país. O ciclo das estações é diferente, as formas e divindades são diferentes e isso sem levar em consideração os encantados de cada local. Associam o xamanismo sem saber a sua origem e acreditam que tudo é prática indígena nativa.

O termo xamanismo foi pela primeira vez usado por antropólogos ocidentais como observadores das antigas religiões da região hoje compreendida como Turquia e Mongólia, assim como dos povos que viviam pelas redondezas. Muitos antropólogos começaram a usar o mesmo termo para se referirem a todas as práticas religiosas ligadas a etnias, incluindo os povos da Ásia, África, Oceania e também partes das Américas.

Os Xamãs, como são conhecidos os sacerdotes do Xamanismo, são por definição aqueles que intermedeiam o contato entre o mundo humano e o mundo dos espíritos. Tratam de doenças, tendo assim um caráter de médico-popular e aliviam a alma. Consegue viajar para outras dimensões da realidade em busca de soluções para os conflitos humanos e da comunidade. O que as pessoas hoje em dia praticam é na verdade um Neo-xamanismo, completamente deturpado e culturalmente apropriado, descaracterizado de sua origem e de sua essência.

Então, antes de procurar se tornar um xamã ou praticar xamanismo, deve-se procurar a etnia a que se faz parte e imergir nesse mundo. Não basta entrar em um grupão e começar a pirar completamente, isso nem é Xamanismo e muito menos Neo-Xamanismo, isso é fanatismo e ilusão religiosa.

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