Dentro de diversas denominações religiosas o caminho sacerdotal é vocacional e é chamado de Sacerdócio, na maioria das vezes. O sacerdócio implica em uma postura de líder para uma comunidade, que será o facilitador da conexão dessa mesma comunidade com as lições teológicas básicas por eles apostoladas. Também é visto como representante direto de Deus e das divindades na terra e tem poder de responder ou dar a entender que responde por esses, mas deve ser consagrado como tal, por um sacerdote anterior. No caso da Igreja Católica, deve ser um descendente do apóstolo Simão Pedro, de alguma forma. Sendo que o próprio Simão, fora renomeado para Pedro, por Jesus, sendo que ele seria a pedra fundamental de sua nova igreja (que em grego quer dizer assembléia ou reunião de pessoas).

Isso não existe claramente dentro da Umbanda, pois a sua fundamentação no plano material se deu de uma forma muito diferente, e o mesmo vale para o Espiritismo de Kardec. Em um exercício de pensamento podemos perceber que o Espiritismo nasceu dos estudos de manifestações espontâneas que ocorriam por intermédio de pessoas dotadas de certas faculdades que viera a ser conhecida como mediunidade. Essa seria uma sensibilidade que o ser encarnado possuía para entrar em contato e transmitir mensagens, impressões e até interagir com o plano dos espíritos. O mesmo ocorre na Umbanda, de uma forma um pouco mais ostensiva. Porém nem Kardec fora sacerdote ou feito sacerdote, tampouco os médiuns que lhe serviram como instrumento para a codificação. Assim também ocorreu com a Umbanda, onde o Caboclo das 7 Encruzilhadas trouxe uma “revelação” mas não tornou seu médium um sacerdote.

Mas, claramente vemos características de sacerdócio na missão de Zélio Fernandino de Morais, Allan Kardec, Chico Xavier, Benjamin Figueiredo, Tatá Tancredo, W.W. da Matta e Silva e muitos outros. Como poderia então eles não terem essa característica singular do sacerdócio? Na acepção correta da palavra sacerdócio, eles não poderiam ser assim chamados ou até mesmo consagrados. Porém essa vivência e essa missão espiritual, tem um outro nome, chama-se Mediunato e é encontrada em diversas religiões ao redor do mundo e se manifesta geralmente de forma espontânea e por meio de sofrimentos.

Como podemos ver no excerto abaixo, no alerta deixado pelo espírito que se apresentava como Joana D’Arc, por meio da psicografia de Ermance Dufax, no livro “A história de Joana D’arc”.

ALERTA AOS MÉDIUNS PELO ESPÍRITO JOANA D’ARC

“Deus encarregou-me de cumprir uma missão junto aos crentes que favoreceu com o mediunato. Quanto mais recebem graças do Altíssimo, mais correm perigos, esses perigos são bem maiores porque têm origem nos próprios favores que Deus lhe concede.

*As faculdades das quais desfrutam os médiuns lhe atraem os elogios dos homens; as felicitações, as adulações; eis a pedra de tropeço*.

Esses mesmos médiuns que deveriam sempre ter presente na memória sua incapacidade primitiva a esquecem; eles fazem mais: o que devem a Deus atribuem a seu próprio mérito. O que acontece então? Os bons Espíritos os abandonam.”

Então podemos concluir que Mediunato é a missão sacerdotal daqueles que não são sacerdotes ou que em suas estruturas religiosas não cabem esse papel. Porém não é uma figura destacada das demais ou melhor do que ninguém. Apenas é alguém com mais responsabilidades, adquiridas (e por muitas vezes imploradas) por nosso Espírito antes da atual encarnação. Pedimos para vir com determinada missão ou somos compelidos a vir com essa missão, para colaborar com o nosso adiantamento moral e intelectual – a princípio – e auxiliar os demais irmãos nessa tarefa muitas vezes difícil e tortuosa.

Em muitos casos os possuidores do Mediunato serão tentados e testados a todo momento para que fraquejem em seus objetivos e grande parte dessa fraqueza advém de si mesmo, de sua sombra e de sua incompetência para lidar com seus próprios desequilíbrios. Muitos caminham para a vaidade e o personalismo, imaginando que por possuírem uma missão, são especiais. A missão aqui não tem caráter de elitismo e sim de obrigação para com a humanidade. Devemos sempre ficar atentos as armadilhas que nos cercam… Principalmente aquelas armadas pela nossa própria sombra.

Isso não ocorre só com as pessoas mais “frágeis” e simples, como eu ou como vários leitores, mas também ocorreu com Jesus, ao ser tentado pelo próprio adversário na penitência do deserto e também por quase todos médiuns ou missionários da história. Inclusive Allan Kardec, tem uma passagem explicitada em sua biografia, onde é colocado de frente com essa questão, como vocês podem ler a seguir:

“Vejo aqui o sinal da tiara espiritual. É bem pronunciado… Vede.

Rivail encarou o espelho apontado pela anfitriã e não viu qualquer rastro de coroa: – Querereis dizer que serei papa? Se tal houvesse de acontecer, não seria nesta existência.

A sra. De Cardone não se inibiu: – Eu disse tiara espiritual, o que significa: autoridade moral e religiosa e não soberania efetiva.

Com o livro dos espíritos já em evidência, Rivail não viu qualquer grande mérito nessa visão… ou ilusão. Oito anos e quatro livros depois, porém, ele reencontraria a sra. De Cardone, agora orgulhosa de seus poderes: – Lembra-te da minha predição sobre a tiara espiritual? Ei-la realizada. – Como realizada? Que eu saiba, não me acho no trono de São Pedro.

Rivail não contaria a ninguém o que ouviu a seguir, mas fez questão de anotar no diário a resposta da vidente, texto que viria a público somente com a morte dele: O senhor não é, de fato, o chefe da doutrina, reconhecido pelos espíritas do mundo inteiro? Não são os seus escritos que fazem lei? Não se contam por milhões os seus correligionários? Em matéria de espiritismo, haverá alguém cujo nome tenha mais autoridade do que o seu? Os títulos de sumo sacerdote, de pontífice, mesmo de papa, não lhe serão dados espontaneamente? Diante de louvações como essa, seria preciso manter sob controle o orgulho e a vaidade.

Mesmo porque muitos destes títulos – papa, pontífice, sumo sacerdote – seriam dados a Rivail, por ironia, pelos adversários cada vez mais numerosos.”

Então o mediunato é uma composição de fatores, objetivos e principalmente responsabilidades encerradas em uma existência, na figura de algumas pessoas que as fazem ter missões, que não precisam ser grandiosas, para com a espiritualidade. Muitas dessas pessoas passam a vida toda sem o seu despertar, outras porém são atraídas para a religiosidade, por mais que se esforcem para evitar. Nem que para isso tenham que ocorrer sinergias e sincronicidades e até mesmo alguns inconvenientes com esta pessoa ou com as pessoas a quem ele tem carinho. É a grande história do “Se não vem pelo amor, virá pela dor”. 

Porém, existem pessoas que são treinadas ou sensíveis a ponto de conseguirem detectar um tônus extra na questão espiritual de algumas pessoas, podendo analisar em sua Aura ou até mesmo na sua emanação energética a sua missão. Essas pessoas quando em processos meditativos, contemplativos e religiosos, simplesmente expandem seu campo a ponto deste se tornar visível. Isso era muito comum de acontecer, por exemplo com Chico Xavier, quando chegava para as sessões de psicografia, sua aura era tão expansiva que muitos em contato com suas emanações entravam em catarse emocional.

O mais importante é lembrar que não precisamos ser proeminentes como Chico Xavier ou intelectuais como Allan Kardec. Vários de nós possuímos esse chamamento e estamos dentro dos terreiros e centros espíritas, trabalhando como a boa e velha formiguinha: Um pouquinho de cada vez.

Mas de qualquer forma é bom manter em mente que muitos são realmente os chamados, mas poucos são os escolhidos, pois dentre os muitos que possuem mediunato ou missão mediúnica, poucos realmente a exercem. Assim como o inverso, muitos que não possuem missão mediúnica, tentam desesperadamente possuir e passam por processos obsessivos, anímicos e depois podem até desenvolver problemas psíquicos e emocionais.

A questão aqui é não se sentir vaidoso por ser médium ou por possuir mediunato, nem todo médium possui um mediunato. Mas praticamente, se não todos aquele, que possuem a tarja do Mediunato são de uma forma ou outra médium. Talvez não de incorporação, mas de inspiração, de audição, de psicografia e de vários outros tipos de manifestação mediúnica.

Logo, uma pessoa que não tenha a chama sacerdotal dentro de si, não será um sacerdote de fato. Assim como um médium ou não médium, que não possua um mediunato, não será um missionário da mediunidade ou um líder dentro das estruturas espiritualistas. Ser líder não é ser melhor, isso que deve ser claramente debatido. Ser líder traz consigo vários dissabores, mas são pessoas que se prepararam no astral de várias formas para que TODOS pudessem se beneficiar de seus conhecimentos e aptidões. Eles estão aqui na terra para servir e não para serem servidos. Então não adiantam cursos de pai-de-santo e de formação de sacerdotes, muito menos cursos para criação de REIS nas religiões, o que se precisa é de muito trabalho, dedicação e paciência.

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