O médium cede a matéria para a entidade, que ouve calmamente todos os lamentos e as dores dos consulentes. Ao final pontua com sua sabedoria advinda do além e fecha os trabalhos, recolhendo-se de volta ao plano espiritual, deixando o médium com todas aquelas informações na cabeça. Então, começa o show de horrores da falta de ética e de comprometimento com o trabalho espiritual. O médium começa a contar sobre a consulta, com tom jocoso e desdenhoso, para todos.

Quem já não fez isso ou não participou de uma situação semelhante? Esse texto nasce do pedido de um leitor que não quis se identificar, o qual reproduzo abaixo:

“Bom dia Douglas! Gostaria que você tratasse de um tema um tanto quanto delicado, mas muito comum nos terreiros de umbanda. Muitas vezes os médiuns abusam da sua mediunidade consciente e ficam falando sobre o que os consulentes disseram aos seus guias para outros médiuns da casa e até mesmo pessoas de fora do terreiro. As “informações” chegam onde não deveriam chegar e isso me incomoda e me faz me perguntar qual seria o limite para que esse “compartilhamento” não seja excessivo?”

Uma situação muito delicada a que o nosso leitor relata, não concordam? Aqui devemos abordar sobre a ética do médium consciente.

Ficar consciente durante o transe mediúnico não é nada demais. Lembrar de tudo que aconteceu, também não é ruim. Quando participamos da incorporação podemos aprender com os mentores espirituais e até mesmo, muito do que eles dizem, serve para nossos problemas pessoais.

Acredito que justamente por isso as pessoas acabam “abrindo a matraca” para contar a última do “Super-Caboclo” ou do “Power Preto-Velho”. Estão manifestando sua própria sombra, ou seja, projetando e com isso estão errando e cedendo as paixões inferiores.

Não é proibido usar uma lição para contar uma história – eu mesmo faço isso aqui no blog, com os contos de terreiro – porém é errado identificar a pessoa, apontá-la e fazer brincadeiras. Todas as histórias que rescrevo aqui são primeiro liberadas pelos mentores espirituais, para servirem de lição e aprendizado. Porém usá-las para desmerecer as pessoas, simplesmente por motivos frívolos e questões similares é desagradável, deselegante e antiético.

Os médiuns que procedem dessa maneira estão fadados a terem que repetir seus conceitos e, ao meu ver, deveriam ser afastados da corrente mediúnica para se tratarem. Não poderiam ficar nem sequer como cambones, pois irão incorrer no mesmo erro. Devem ser colocados junto com a assistência ou em práticas como o bazar, secretária, etc… até estarem aptos a retornarem ao trabalho caritativo mediúnico, compreendendo que aquela prática pode levá-lo a total desgraça em seu campo mediúnico. Não estamos punindo, pois essas atividades são muito importantes para a casa espírita e o terreiro de Umbanda, estamos apenas tirando ele do vício de ouvir as conversas e consultas.

Muitos dizem que uma simples conversa não fará mal, porém devemos nos lembrar que os espíritos se aproximam de nós pela afinidade com nossos pensamentos, emoções e sentimentos. Se estamos exalando virtudes, atrairemos espíritos virtuosos. Se estamos emanando paixões inferiores, com certeza atrairemos espíritos frívolos, zombeteiros e até mesmo entes mais trevosos que querem destruir o terreiro ou a casa de caridade de dentro para fora.

Pode parecer fantasioso a princípio, porém é o que ocorre nos bastidores espirituais. Uma guerra espiritual é travada para que se mantenha a corrente da casa firme diante de vários ataques que são perpetrados pelas hordas negativas, contra o grupo de trabalhadores daquela casa.

Eis também a explicação do porque em dias de trabalho, muitas coisas dão erradas. Para isso indico o Pensamentos 05 – Dia de Trabalho? Deu Ruim!!:

https://youtu.be/FYmmB2EEy-o Temos também as perguntas 302 e 484 do Livro dos Espíritos que acabam falando sobre algo similar:

302 – A afinidade necessária para a simpatia perfeita consiste apenas na semelhança dos pensamentos e sentimentos, ou também na uniformidade dos conhecimentos adquiridos? – Na igualdade dos graus de elevação.

484 – Os Espíritos se afeiçoam de preferência a certas pessoas? – Os bons Espíritos simpatizam com os homens de bem ou suscetíveis de progredir; os Espíritos inferiores, com os homens viciosos ou que podem viciar-se; daí o seu apego, resultante da semelhança de sensações.

O mais importante é sempre a autocrítica. Devemos sempre exercitá-la mesmo que creiamos que somos seres que estamos de acordo com as Leis Divinas. Se estamos não custa nada dar uma reexaminada sempre. Se não estamos, saberemos e aí engolindo vaidade e orgulho, devemos nos corrigir. O progresso do espírito se dá através das remissões dos erros e não exatamente fingindo que o erro não aconteceu ou acreditando que não devemos nada a ninguém, nem mesmo aos nossos guias protetores.

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