Por André Caboclo

O desdobramento espiritual que me convenceu da realidade extrafísica

A capacidade de projetar a consciência para fora do corpo físico, geralmente referida no meio espiritualista como “projeção astral” ou “desdobramento espiritual”, me acompanha desta a mais tenra infância. Contudo, como esses episódios aconteciam de forma espontânea, durante o sono ou em momentos triviais, como o de um rápido cochilo no sofá, por exemplo, ficava sempre aquela sutil desconfiança de que tudo poderia não passar de algum tipo peculiar de sonho. A experiência que irei relatar aqui aconteceu há alguns anos e foi um divisor de águas, pois não apenas me mostrou que, com esforço e dedicação é perfeitamente possível provocar voluntariamente o desdobramento espiritual com um grau de lucidez considerável, como também me convenceu definitivamente da realidade acerca dos planos extrafísicos da existência.

Acho interessante mencionar aqui que anos antes eu já havia lido o clássico Projeciologia, do Waldo Vieira e também outros livros sobre o tema escritos por autores estrangeiros, mas, ao tentar as técnicas recomendadas por estes estudiosos, aconteceu comigo aquilo que acredito que acontece com 90% daqueles que se interessam por este tipo de tema: tentei por alguns dias, não obtive sucesso e desisti. Hoje vejo que o fracasso nesses casos costuma acontecer pelas razões mais óbvias, como falta de persistência (às vezes os resultados demoram meses ou anos para aparecer, e vivemos numa sociedade cada vez mais imediatista, que quer todos os resultados para ontem) e ansiedade, o que sempre atrapalha a concentração e o fluxo adequado de energia psíquica necessária para essas empreitadas.

Uns dois anos depois, por razões que só as famosas “coincidências” explicam, decidi ler de novo a monumental obra do Waldo Vieira, e ainda complementei o estudo assistindo alguns dos inúmeros vídeos sobre o tema postados no youtube pelo Saulo Calderon, provavelmente o estudioso brasileiro de projeção astral mais pop da atualidade. Lembro que até ouvi alguns arquivos de áudio disponibilizados no site dele para ajudar a “abrir a clarividência”, que basicamente são exercícios de meditação dirigida, mas que recomendo, como experiência.

Certa tarde, já próximo do final do expediente, eu estava no meu escritório, sem ninguém para atender e nada para fazer. Liguei para os meus pais, que estavam na cidade, e pedi se eles viriam me visitar ali, e eles responderam que não, pois precisavam passar no supermercado e iriam me encontrar diretamente na minha casa, à noite. Decidi então, sabe-se lá o porquê, praticar um exercício recomendado para auxiliar na projeção astral, e que consiste basicamente em ficar olhando fixamente para um ponto qualquer com os olhos entreabertos, sem piscar, pelo máximo de tempo possível, ou até atingir o famoso “estado alfa”. Fiz isso da mesma forma como já havia feito por diversas outras vezes, mas, decerto por não estar ansioso por resultados, ou por já estar mais familiarizado com a técnica, algo diferente aconteceu. Senti algo que nem vou perder tempo tentando descrever, pois sei que não vou conseguir explicar direito. Direi apenas que pareceu com uma sutil vertigem, que me induziu a fechar os olhos e, por perceber que algo diferente estava acontecendo, simplesmente decidi tentar levantar da cadeira em que estava sentado, mas sem mover o corpo. Sei que essa descrição está estranha para quem lê, não encontro formas mais sofisticadas de fazer o relato. Quando dei por mim estava de pé, no meio da escrivaninha, literalmente com as pernas não físicas transpassadas através do móvel.

Eufórico, saí porta afora e nem tentei olhar para trás, onde havia ficado o corpo. A exemplo das projeções involuntárias, a visão neste momento tinha algo anormal. É como se você fosse diante de um espelho embaçado – como às vezes ficam os do banheiro, depois do banho – e limpasse apenas a área central para se observar. Ou seja, dentro de um certo limite, o campo de visão é bem nítido, para além, a visão fica como se desfocada. Experiências posteriores me mostrar que esse grau de nitidez na visão astral pode oscilar bastante, dependendo de diversos fatores. Quando saí da minha sala e cheguei ao corredor da galeria, vi que ele estava anormalmente movimentado. Umas quatro ou cinco pessoas circulavam por ali e, mesmo (quase) sem ver nelas algo de diferente, pude sentir que eram espíritos desencarnados. Pelo menos dois passaram por mim sem me notar e entraram na sala às minhas costas. Então vi algo que me deixou muito emocionado, me desestabilizando ao ponto de, instantes depois, acabar despertando novamente no corpo: no interior da sala, envolta por uma espécie de névoa luminosa, uma entidade com aparência de um ancião, mestiço entre branco e indígena (que hoje sei ser o Sr. Rompe-Mato) e outra plasmada como um preto-velho recebiam os espíritos que ali entravam, com se lhes aplicando passes energéticos, e os conduziam por entre a luz para algum lugar desconhecido, mas que, pela sensação que o momento transmitia, sem dúvida era agradável.

Acordei sobressaltado, de volta ao corpo, e, extasiado, decidi que queria repetir a experiência imediatamente. Senti que ainda estava com aquela espécie de torpor e que por isso mesmo deveria dar certo. Não sei quanto tempo demorou, talvez tenha sido bastante, pois a expectativa e a euforia do momento atrapalhavam a concentração, mas deu certo. Saí novamente do corpo e fui até o corredor da galeria. Lá vi o espírito de uma mulher que entrou na academia que havia no final do andar (e se encontrava fechada naquele momento) e começou a se exercitar nos aparelhos. Isso para mim foi uma prova daquilo que muitos autores afirmam: existem espíritos tão perturbados que, na sua inconsciência, ficam presos à repetição de atos rotineiros de quando eram vivos, como se nem tivessem a noção de estarem mortos.

Vi também um rapaz que vinha zanzando pelo corredor como um legítimo zumbi de filmes de terror ou séries do tipo Walking Dead. Estava vestindo sua roupa fúnebre e por cima de seus ombros ainda havia pedaços daquele véu branco que às vezes se utiliza para cobrir os defuntos durante o velório. Como ele vinha na minha direção, senti vontade de abordá-lo, mas lembrei dos livros do Waldo onde ele diz que isso deve ser feito com cautela. Fiquei na dúvida, mas quando ele já estava quase passando por mim, aparentemente sem me notar, segurei gentilmente no seu ombro e disse “Olá”, me sentido meio idiota logo em seguida. Ele não respondeu, apenas ficou me olhando como se não estivesse entendendo nada. Então, vi novamente o caboclo e o preto-velho na sala ao lado e, instintivamente fui conduzindo o rapaz para lá. Tudo ocorreu da mesma forma que antes, os benfeitores aplicaram passes energéticos no rapaz o conduziram para dentro daquela névoa luminosa.

Tive vontade de falar com aqueles seres iluminados, mas, antes disso, aconteceu algo curioso. Olhei para o lado e vi meu pai e minha mãe subindo as escadas que davam acesso à minha sala. Me senti desanimado e pensei algo como “Poxa! Então tudo isso deve ser apenas um sonho, ou fantasia minha, porque sei que meus pais não viriam aqui agora!”. Nesse momento, ouvi um barulho de pancadas, levei um grande susto e despertei, de volta no corpo. Demorei alguns segundos para me situar e as pancadas se repetiram. Então entendi que era alguém batendo na porta do escritório e, qual não foi minha surpresa, ao ver meus pais adentrando e explicando que haviam mudado de ideia e decidiram passar ali antes de ir ao supermercado. Ou seja, estando fora do corpo, eu realmente os vi chegando através de outro aposento. Isso me convenceu de que muitas vezes encarnados, desencarnados e desdobrados realmente transitam pelos mesmos espaços, geralmente sem perceberem uns aos outros.

Depois desse acontecimento, com as convicções reafirmadas, minha capacidade mediúnica deslanchou de vez e desdobramentos assim se tornaram relativamente comuns, sendo que alguns deles já relatei em textos aqui do blog e, na medida do possível, outros ainda irei relatar com o passar do tempo.

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