Diante da triste notícia sobre o acidente aéreo que ocorreu na Colômbia onde uma aeronave caiu, levando ao desencarne de diversos seres humanos, dentre eles jogadores de futebol e comissão técnica do time da Chapecoense, do estado de Santa Catarina e diversos outros profissionais que trabalhavam cobrindo a viagem do time catarinense para disputar a final do Campeonato Sulamericano de Futebol, podemos apenas orar para que as famílias tenham conforto nesse trágico momento e também que todos os desencarnados possam ser esclarecidos em suas missões que continuam no plano astral.

Essa notícia pegou todos de súbito e sempre comove demais. Uma só “morte” nos toca a alma de forma a que nos sensibilizamos com pessoas que nem sequer conhecemos. De certa forma demonstrando que há alguma empatia entre todos nós, como espécie, nos ligando em momentos emocionais mais catárticos. Quando se trata ainda de uma tragédia com múltiplas vítimas, isso nos sensibiliza a ponto de levar ao choque.

Muitos questionam os desígnios divinos em seus momentos de dor e de sofrimento, o que é totalmente compreensivo e perdoável tanto no ponto de vista humano, quanto no ponto de vista espiritual. A morte traz sofrimento e por mais esclarecido que possamos ser, ainda assim iremos passar por essa experiência de luto. O ideal é que não seja suprimido esse luto em nome de uma bandeira de “evolução superior”, pois estamos polarizando e isso causará prejuízos emocionais e também espirituais, a médio ou longo prazo, para nós.

As tragédias como essa em que muitos falecem é dada várias denominações, tais como: Desencarne Coletivo, Karma Coletivo e Fatalidade.

A doutrina espírita e os espíritos que trabalham nas diversas religiões espiritualistas sabem do momento delicado e trazem para nós há muitos anos, diversas informações para que possamos compreender melhor essas questões, para nos preparamos na medida do possível para as situações que iremos nos deparar no mundo terreno.

Allan Kardec em seu inquérito com os Espíritos, na pergunta 851 do Livro dos Espíritos, questiona o caso da Fatalidade:

851. Há uma fatalidade nos acontecimentos da vida, segundo o sentimento ligado a essa palavra; quer dizer, todos os acontecimentos são predeterminados, e nesse caso cm que se torna o livre-arbítrio?

      — A fatalidade só existe no tocante à escolha feita pelo Espírito, ao se encarnar, de sofrer esta ou aquela prova; ao escolhê-la ele traça para si mesmo uma espécie de destino, que é a própria conseqüência da posição em que se encontra. Falo das provas de natureza física, porque, no tocante às provas morais e às tentações, o Espírito, conservando o seu livre-arbítrio sobre o bem e o mal, é sempre senhor de ceder ou resistir. Um bom Espírito, ao vê-lo fraquejar, pode correr em seu auxílio mas não pode influir sobre ele a ponto de subjugar-lhe a vontade. Um Espírito mau, ou seja. inferior, ao lhe mostrar ou exagerar um perigo físico, pode abalá-lo e assustá-lo, mas a vontade do Espírito encarnado não fica por isso menos livre de qualquer entrave.

O que nos toca aqui é a questão clara de que as fatalidades não existem, senão por escolhas feitas por nós mesmos quando desencarnados, dentre nossas missões de vida ou programação kármica. Claramente, fica compreendido que até mesmo certas premonições, não são nada mais do que uma forma de lucidez do espírito sobre suas missões e objetivos, traçados pelo próprio Espírito, antes do encarne. Assim poderíamos explicar o acidente ocorrido com o grupo musical Mamonas Assassinas, por meio de um desastre aéreo em 1996, onde todos tripulantes da aeronave faleceram. Contamos até mesmo com um vídeo do tecladista Júlio Rasec conta de um sonho que teve sobre um acidente aéreo.

Allan Kardec ainda interpela os espíritos sobre mais informações a cerca deste assunto, a fatalidade, no que toca a “sorte” de algumas pessoas e a “má-sorte” de outras. Algumas pessoas escapam ilesas de acidentes e tragédias e outras tem suas rotas alteradas para que não façam parte da mesma coletividade que irá desencarnar. Vemos isso com os vários relatos de pessoas que iriam embarcar em uma aeronave ou estariam nas torres gêmeas em 2001 e por um motivo ou outro, muitas vezes fora da rotina normal de suas vidas, não puderam chegar a tempo de embarcar ou tiveram que se ausentar. É a forma de a espiritualidade guiar as pessoas que não tem karmas emaranhados a não estarem no mesmo local de onde será feito o desencarne coletivo.

Contudo alguns parecem que passam por diversos tipos de tragédias, escapando das mesmas, mas sempre atraindo novas “fatalidades”, como é o caso de um homem de 36 anos chamado Matthew, que era sobrevivente do atentado das torres gêmeas e que tempos depois estava na casa de shows Bataclan, em Paris, quando do atentado na mesma. Ele também sobreviveu a esse atentado. Observemos a questão:

853. Certas pessoas escapam a um perigo mortal para cair em outro; parece que não podem escapar à morte. Não há nisso fatalidade?

     — Fatal, no verdadeiro sentido da palavra, só o instante da morte. Chegando esse momento, de uma forma ou de outra, a ele não podeis furtar- vos.

853 – a) Assim, qualquer que seja o período que nos ameace, não morreremos se a nossa hora não chegou?

     — Não, não morrerás, e tens disto milhares de exemplos. Mas quando chegara tua hora de partir, nada te livrará. Deus sabe com antecedência qual o gênero de morte por que partirás daqui, e freqüentemente teu Espírito também o sabe, pois isso lhe foi revelado quando fez a escolha desta ou daquela existência.

Desta forma evidencia-se que o mesmo poderia não evitar as tragédias devido a uma programação superior e isso nos leva a questionar qualquer método de prevenção e também de preservação da vida, por superficialmente analisar que a vida e a morte é uma decisão que não nos cabe e que quando chegar o momento, iremos morrer, a despeito do que fazemos e das prevenções que tomamos. Porém não é assim que as coisas se processam, pois pelo livre-arbítrio podemos tomar decisões equivocadas e até colocar-nos em riscos desnecessários, levando-nos a categorias de suicidas inconscientes ou inconsequentes no mínimo.

854. Da infalibilidade da hora da morte segue-se que as precauções que se tomam para evitá-la são inúteis?

      — Não, porque as precauções que tomais vos são sugeridas com o fim de evitar uma morte que vos ameaça; são um dos meios para que ela não se verifique.

De qualquer forma, a luta pela vida é um instinto que irá nos acompanhar e que deverá sempre ser priorizado, pois a vida é uma oportunidade de redenção para nossas almas imortais, um momento de aprendizado, mas acima de tudo é uma dádiva Divina.

Podemos questionar até mesmo, em casos como esses, a bondade de Deus. Argumento muito utilizado por não-religiosos ou não-crentes, para invalidar ou pelo menos fragilizar a crença em uma Inteligência Superior. O Espírito Emmanuel, por meio da mediunidade de Chico Xavier em seu livro “Pede Licença”, aborda o tema sobre desencarnes coletivos, confrontando a questão de forma muito elegante no que diz respeito a bondade Divina e do porquê Deus permite a morte de forma aflitiva de tantas pessoas, enclausuradas e indefesas, como nos casos de incêndios e quedas de aeronaves.

“- Realmente, reconhecemos em Deus o Perfeito Amor, aliado à Justiça Perfeita. “E o Homem, filho de Deus, crescendo em amor, traz consigo a Justiça imanente, convertendo-se, em razão disso, em qualquer situação, no mais severo julgador de si próprio”

No livro “O Consolador”, também ditado por Emmanuel, o mentor do médium mineiro ainda complementa sobre a provação coletiva ou resgate coletivo, esclarecendo:

“Na provação coletiva, verifica-se a convocação dos Espíritos encarnados, participantes do mesmo débito, com referência ao passado delituoso e obscuro. O mecanismo da justiça, na lei das compensações, funciona, então, espontaneamente, através dos prepostos do Cristo, que convocam os comparsas da dívida do pretérito para os resgates em comum, razão porque, muitas vezes, intitulais “doloroso caso” às circunstâncias que reúnem as criaturas mais díspares no mesmo acidente, que lhes ocasiona a morte do corpo físico ou as mais variadas mutilações, no quadro dos seus compromissos individuais”.

Isso nos deixa claro que a convocação é totalmente voluntária, sabem do seu destino e o escolheram antes do encarne. Fazendo assim com que essa tragédia seja também em seu benefício e dos seus familiares, que terão que lidar com a dor da perda. As forças que gerenciam o Universo de certa forma trabalham para que todos estejam reunidos em um mesmo local, em um mesmo objetivo e com um mesmo propósito. Criamos assim a ideia de que existe uma necessidade e um porque desse resgate ser feito de forma tão abrupta e até mesmo brutal.

Abre-se também bastante o pensamento sobre os atentados terroristas, as muitas guerras e tudo mais. A questão é a Lei de Causa e Efeito, que muitas vezes é mal compreendida. Podemos perpetrar uma guerra sem propósito, por pensamentos egoístas, guiados pela maldade pura e simples? Com certeza.  Morrerão inocentes? Nem sempre, pois a nossa visão de inocência não transpassa essa encarnação. Não sabemos o que foi o combinado no plano astral, mas diante de uma situação dessas, a própria espiritualidade trabalha para que as vítimas tenham um propósito para suas próprias existências eternas. Pode ser que inocentes – na visão mundana e terrena – possam desencarnar e serem acometidos de diversos sofrimentos? Sim, isso é algo da maldade humana, porém como essa pessoa lidará com essa tristeza e violência é o que definirá seus próximos objetivos encarnatórios nas vidas subsequentes.

Possuímos diversos relatos de mártires e de injustiças cometidas no decorrer da história, e o que posso afirmar é que mesmo com nossa limitação material e mental, a lei de causa e efeito é extensiva a todos e a tudo. Nesse momento, não basta só a intelectualidade e o esclarecimento, nesse momento mais do que isso, precisamos do lado sentimental do ser humano e da fé. Oremos pelas vítimas dessas tragédias e acima de tudo, oremos para os que aqui ficaram e estão em sofrimento.


Fontes de Pesquisa:

Kardec, Allan. Livro dos Espíritos; Capítulo 10, Lei de Liberdade, VI, Fatalidade.

Xavier, Francisco Cândido e Pires, J. Herculano; Chico Xavier pede Licença, no capítulo 19, “Desencarnações Coletivas”, SP: Ed GEEM.

Xavier, Francisco Cândido. O Consolador, Ditado pelo Espírito Emmanuel, RJ: Ed FEB.

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