O que posso falar desse filme (Doutor Estranho)  que acabei de ver e já considero pacas?

Começando assim bem clichê mesmo que vou tentar passar umas boas impressões do que vi neste novo episódio da Marvel Studios no cinema. Então se você ainda não viu o filme, recomendo que pare agora de ler, para evitar os spoilers. Esteja avisado que a partir de agora, se você ler, sua experiência com o filme pode não ser a mesma.

Para ajudar a vocês, vou deixar aqui o trailer do filme, na esperança de que vejam o mesmo.

Doutor Stephen Strange é um talentoso médico cirurgião que leva o seu trabalho e sua carreira como as coisas mais importantes em sua vida, não pelo fato de salvar vidas, mas sim para engrandecer o seu ego e alimentar a sua enorme vaidade. Nos primeiros minutos do filme, passamos a odiá-lo por certas situações em que demonstra total falta de empatia e muita apelação para o egocentrismo.

De luxos, carros e apegado a vida material, se demonstra uma pessoa praticamente inatingível, se divinizando por si mesmo. Em um passeio de automóvel, totalmente imprudente, sofre um grave acidente que literalmente destrói suas mãos, justamente o objeto do seu trabalho e precisa recomeçar a vida totalmente sem esperanças. Como se não bastasse ter ficado a beira da morte, ainda assim, mantém seu jeito arrogante, presunçoso e egoísta, não querendo abrir mão do passado, gastando o que tem e o que não tem para se curar, sendo rejeitado – assim como rejeitou vários pacientes – por diversos médicos, na tentativa de recuperar o movimento de suas mãos.

Em um acesso de arrogância e impertinência ouve de um fisioterapeuta que ele havia conhecido alguém em situação semelhante, que não andava, que sofria de dores terríveis e praticamente sem solução. Esse era um dos pacientes que o Dr. Strange havia negado de aceitar em sua mesa de cirurgia, pois era dado como intratável e o arrogante médico não poderia perder seu SCORE invicto.

Ao ir ter com esse paciente, percebe que o mesmo está totalmente recuperado e jogando basquete em uma quadra, e recebe do mesmo a instrução de que ele queria a cura material, porém sem poder obtê-la ele se voltou para si, em busca de sua mente e espírito.

Então o talentoso neurocirurgião empreende uma viagem até o Nepal, em busca da suposta ordem monástica (Kamar-Taj) que poderia restaurar suas mãos. Nessa jornada ele se depara com a primeira lição: ESQUECER TUDO QUE JÁ SABIA, ou pressupunha que sabia.

Ao se deparar com a mestra de Kamar-Taj ele começa a empreender novas lições, ao se deparar com uma realidade extrafísica forçada por um golpe da Maga Suprema, consegue desprender-se do corpo e vê que a existência da Alma é de fato real. Isso já o começa a tirar do ambiente seguro da sua mente lógica, ainda mais quando a mestra lê diz: “Abra o seu olho!”, e tocando no chakra Ajna (Frontal ou Terceiro Olho), Strange faz uma viagem para múltiplas realidades.

A reflexão mais chocante é a seguinte:

“Você sempre viu o mundo pelo buraco de uma fechadura, procurando compreender o mundo. Agora que tem a oportunidade real de expandir esse buraco, você está com medo e não quer aceitar.”

A partir daí é a briga de Strange com seu próprio Ego e para romper suas limitações físicas e mentais, em busca do aprimoramento e claro, no caminho cometendo inúmeras derrapadas, por sua ânsia em saber mais.  Paro aqui sobre o filme, pois o resto é uma extrapolação, com bastante ação, típico dos filmes de super-heróis (o que não deixa de ser divertido), mas que de fato pouco tem a ver com o foco que quero tocar nesse artigo.

Strange vive o que se costuma chamar de Jornada do Médium. Partindo de um pressuposto lógico, totalmente envolvido pelo Maya (Ilusão) não queremos despertar para o que nos cerca, tateando as escuras, tentando nos manter sãos no mínimo de coisas que podemos, como é a vida material. Porém os desafios da vida, os obstáculos, os acidentes e fatalidades, sempre nos impulsionam para mais próximo da realidade oculta por detrás do véu de Ísis, o que nos faz sentir o medo de perder o EGO e de perder aquilo que achamos ser nossa essência.

Só compreendemos de fato que nossa essência é muito maior, ao toparmos adentrar de cabeça no mundo espiritual. Aceitando as múltiplas realidades, sem deixar nossa ciência de lado, mas tentando a custos danosos a nossa própria garantia de manter o status quo, uma condução segura nos campos astrais.

Podemos perceber desde a viagem astral, a projeção de consciência, a manipulação da realidade sob verdadeira Vontade e muito mais, por meio desse filme. Se você parar para pensar, tirando todos os fetiches do filme e as suposições literárias, você irá perceber que ali está um médium, em busca do seu equilíbrio e de sua missão de vida, encontrar a resposta mais profunda que é a abnegação.

De fato um filme fantástico, que eu indico para ver tanto por diversão, quanto para um aprofundamento mais filosófico acerca das realidades fantásticas que nos envolve. Ainda vejo o vilão Dormammu como o nosso lado sombrio e a sua projeção no inimigo do filme como a projeção que fazemos naqueles que estão ao nosso redor. Parafraseando a Suprema Maga:

“Você não deve destruir suas sombras, mas deve manter-se acima dela.”

Algo que devemos constatar também é a forma como a Maga Suprema drena da energia da Realidade de Dormammu e como obteve acesso a isso, praticando rituais proibidos. A sua justificativa era que isso era necessário para proteger a Terra, mas até que ponto? Com que custo? Será que não inventamos “justificativas” para minimizar nossos erros? Ou pior, será que em nossa jornada mediúnica, não cedemos demais ao lado das sombras, em busca de um poder mais palpável, para “em nome do bem e da Justiça”, ajudar? É algo a se pensar e se enquadra perfeitamente dentro da Umbanda, nessa busca incessante que os novos médiuns tem pelos arquétipos de esquerda.

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