Hoje muito se fala dentro dos meios umbandistas sobre os Trono de Deus, relacionando-os aos Orixás, ou a fatores da vida, ou até mesmo como manifestações das múltiplas faces de Deus. Contudo, a vertente teológica que acabou por criar essa nomenclatura dentro da Umbanda, pouco tem de coerente com a teologia de Umbanda como um todo, e até mesmo a teologia cristã.

Dentro da concepção que aprendi sobre Deus, deuses, divindades e entidades, a hierarquia respeita a seguinte forma:

  1. Deus
  2. Anjos
  3. Santos (almas santas)
  4. Shedim – Gênios Superiores
  5. Almas em Aprendizado e Evolução – Seres Humanos
  6. Almas em desequilíbrio ou negativas
  7. Shedim – Gênios Inferiores
  8. Demônios (Daemons negativos)

Mas aonde entrariam os tronos nessa história? Para isso precisamos entender o termo “Tronos”. Primeiramente, sabemos que pela teologia de Umbanda Sagrada, os Orixás (ou pares de fatores) são chamados de Tronos de Deus, logo podemos inferir que os Tronos, para essa teologia, são Orixás. Mas segundo a teologia Cristã os Tronos seriam uma das classes angelicais.

Anjos e Orixás são a mesma coisa? Obviamente não. Os Anjos são seres não-corpóreos, inteligências superiores criadas por DEUS para manter a Criação em ordem e servirem de intermediários entre os seres humanos e DEUS. São Tomás de Aquino separou os anjos em três esferas e nessas em castas ou coros. Esse estudo foi publicado em seu livro Suma Teológica, escrito entre 1264 e 1273. A sua proposta é a seguinte:

1ª Esfera – Aqueles que glorificam e contemplam a Deus.

  • Serafins – São os Anjos mais antigos e mais próximos de Deus, encarregados de guardar o trono sagrado. Possuem os pensamentos mais puros dentre todos.
  • Querubins – São os anjos que guardam a Árvore da Vida, possuem quatro rostos: um humano, um de águia, um de leão e um de touro. Parecem quimeras. São anjos guerreiros e protetores, porém com grande sabedoria e guardam os mistérios divinos. São eles que protegem a Arca da Aliança. Existem dois querubins esculpidos acima da Arca.
  • Tronos – São seres vislumbrados como vórtices luminosos e mantêm o trono Divino por meio de sons. (Muito parecido com os Valar na obra de J.R.R. Tolkien, o Senhor dos Anéis). São os músicos do Paraíso, são os intermediários e passam as informações, missões e objetivos do plano superior para os Anjos dos coros inferiores.

2ª Esfera – São os governantes do plano terreno (ou de tudo que é material na Criação)

  • Dominações – São os ministros de Deus, são os responsáveis por executar as vontades soberanas do Criador e recebem as missões mais importantes.
  • Virtudes – São os que auxiliam na execução das tarefas divinas, afastando os obstáculos que podem ser encontrados no caminho de um objetivo. Geralmente tem uma representação mais saudável, forte e manipulam os eventos climáticos como tempestades e os fenômenos naturais como tsunamis, terremotos e etc.
  • Potestades – São os anjos que transmitem e concretizam o pensamento de Deus no plano terreno. São aqueles que possuem espadas flamejantes que utilizam para combater os demônios e gênios inferiores. São os dominadores dos quatro elementos naturais: Terra, Fogo, Água e Ar.

3ª Esfera – Os anjos mais próximos de nós.

  • Principados – São os anjos que protegem e aconselham os reis, príncipes, líderes e governantes. São extremamente severos e não se furtam em castigar ou punir aqueles que não cumprem a vontade de DEUS.
  • Arcanjos – São os anjos escalados para missões especiais que mudam o rumo da humanidade e da Criação. Exemplos: Miguel, Rafael, Gabriel e Uriel.
  • Anjos da Guarda – Anjos que são os responsáveis por nos ajudar, através da intuição e nos protegem dos perigos. Eles podem se manifestar visivelmente com a forma que melhor agradar o seu protegido.

Seguindo essa ideia percebemos que os Orixás não se enquadram na terminologia de Trono pela teologia cristã e nem sequer em outra das castas. Então, onde poderíamos colocar os Orixás? Dentro da categoria de Shedim ou Gênios Superiores. Eles estão abaixo dos Anjos e dos Santos, mas ainda são extremamente poderosos.

É dito que Deus antes de criar o Universo criou os Anjos e então todas as coisas na existência. Entre o hiato do último dia de criação e da criação do homem, criou os Shedim, os gênios e por fim criou a humanidade. Porém, os Anjos são seres que não possuem livre-arbítrio e cumprem funções determinadas pelo Criador, isso abre até mesmo espaço para o debate sobre o mal e os anjos caídos e sua revolta. Aos humanos, Deus dotou-os de liberdade de ação e escolha e aos Shedim também, porém em uma categorização diferente dos humanos, pois foram criados em um intervalo e não durante a própria Criação. Os Humanos e os Shedim compartilham diversos atributos, como a capacidade de mutação, de adaptação e principalmente valores. Assim, também possuem egos, vaidades e amor-próprio. O que fazem com isso, determina se são Gênios Éticos ou Não-Éticos.

Os Gênios podem ser classificados entre: Gênios Superiores Éticos, Gênios Superiores Não-éticos, Gênios Inferiores Éticos e Gênios Inferiores Não-éticos.

Então os Orixás teriam sim uma categorização de Gênios Superiores, geralmente éticos, assim como diversas deidades. Porém, estão restritos a uma determinada função ou espaço geográfico, geralmente uma localização como rios, praias, montanhas, cruzamentos e etc. Logo não poderiam estar tanto na África quanto na América, pois tem poderes restritos e limitados, apesar de muito superiores aos nossos. Já os Tronos de Deus (Anjos) estariam fora do espaço-tempo e poderiam abarcar toda a Criação, mas teriam pouco interesse em nós humanos, pois seu nível de responsabilidades é diferente dos das paixões humanas.

Os Tronos da Umbanda Sagrada são ditos como manifestações das faces de Deus, ou seja, são seres quase onipotentes e onipresentes. Essa concepção vai contrária a todas as outras teologias até então existentes e foge completamente a lógica. Os Orixás não são seres Universais, mas deuses locais, assim como os deuses egípcios, os deuses celtas, os deuses gregos e os romanos. Esses citados também são Gênios ou Shedim. Esse conceito no Brasil tem o nome de Encantado, logo, ampliando nosso raciocínio, vamos colocar que todos os Encantados (Gênios – Shedim) são representatividade de forças da Criação, por exemplo: O Trovão e Raio através de Xangô para os Nagôs, Thor para os Escandinavos, Zeus para os Gregos e Júpiter para os Romanos. O que nos leva a deduzir que na terra brasileira já existia um encantado que atuava também nos Trovões e Relâmpagos, alguns chamam essa força de Tupã. Os africanos trazidos para cá, viam essa energia sendo cultuada e o associaram ao seu próprio Orixá, Xangô. O nome acabou perpetuando, mas a entidade por detrás da força que ela rege era outra e os primeiros africanos (sacerdotes) sabiam disto. Porém, esse conceito se perdeu ou empobreceu com o tempo e acabou gerando uma prevalência dos Orixás acima das forças naturais e dos encantados locais. Pior ainda, foram considerados mais que os Santos ou Almas Santas.

As pessoas podem até se perguntar nesse momento:

“Mas o Orixá por ser uma deidade não é superior aos Humanos?”

A princípio podemos até ter essa falsa impressão, mas de verdade nós humano possuímos algo incrível que é nosso livre-arbítrio e a capacidade de evoluir. Alguns seres humanos podem até mesmo se encantar, virando um encantado. Alguns outros superam isso pela sua evolução tremenda e se tornam Santos, segundo a teologia cristã, contemplando Deus e interferindo por nós junto a Ele. Então temos que os Santos podem ainda agir em questão planetária, acima do domínio regional, ou seja, superior aos Encantados, mas ainda assim inferiores aos Anjos, mas não subordinados a esses.

Espero que tenham compreendido tudo até agora, apesar do tema ser extremamente complexo. Ainda assim, isso demonstra o porquê não devemos CULTUAR nenhuma deidade, apenas respeitá-los, sem nos curvar. O único “ENTE” que deve ser cultuado sempre é DEUS!

Então lembremo-nos que existe toda uma teologia anterior a nossa, seja ela caldéia, egípcia, assíria, babilônica, hebraica ou até mesmo cristã. Logo, não podemos simplesmente jogar tudo isso pela janela e só acreditar em algo que acabou de nascer, só porque é algo novo. Se o mesmo tivesse sido feito  paralelamente, sem detrimento das outras ou sem invalidar as demais, não teria problemas, porém agora usam a afirmativa: “Mas os Tronos de Deus!”, da mesma forma que os evangélicos e católicos usam o: “Tá na bíblia”, para justificar algo sem usar do bom-senso.

A maior lição que devemos ter é que DEUS é mais! Deus PRIMEIRO! Sempre!


Curiosidades:

Os Tronos de Deus dentro da concepção de São Tomás de Aquino possuem 24 seres angelicais.

Os Tronos segundo a teologia de Umbanda Sagrada teve 14 tronos, depois 16 e agora pelo que me consta são 18.

Existe até uma justificativa dentro de uma vertente esotérica ou ocultista pra essa nomenclatura e comparação para a Umbanda Sagrada, mas o mesmo é uma informação supostamente oculta, que os diversos sacerdotes formados por essa vertente teológica não souberam explicar. Isso me leva a pensar que a informação a eles não foi passada, o que é irônico e curioso, pois como sacerdote deveriam ter acesso a todas as informações veladas da doutrina, para poderem perpetuar esse conhecimento.

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