A Umbanda sofreu uma mudança nas últimas décadas. Trouxe grande volume de informação a um ambiente onde geralmente as informações eram veladas e passadas, muitas vezes, com algumas deturpações. A Umbanda não se foca em uma só manifestação ou culto, como é o caso de várias religiões por todo o globo, como exemplo: A figura de Jesus e Maria para os Católicos, o mesmo Jesus para os evangélicos, a figura do profeta Mohammed para o Islã e etc.

Assim não temos um pilar central para determinar as diretrizes que seguem a religião de Umbanda. Possuímos várias influências.

Como uma religião agregadora – e “inclusivista” – traz referências e influência de diversas culturas e práticas religiosas de todo o planeta, mesmo que algumas já tenham desaparecido da face da terra ou ido ao esquecimento. Com essa característica acaba por trazer também algumas polêmicas, dentre elas a figura controversa de EXU.

Exu na África é um Orixá – que não é cultuado na Umbanda, apesar do que algumas vertentes promulgam – responsável pelas mensagens e comunicação dos demais Orixás com o mundo terreno – Aiye. Mas na Umbanda a sua figura foi adaptada para uma linha de trabalho, logo não temos o EXU se manifestando nas giras mas sim a linha dos EXUS.

Esses espíritos já tiveram vivências encarnados no plano material – salvo algumas exceções – que se desvirtuaram em algum aspecto da vida e que depois da recuperação e resgate nos planos inferiores, acabou por servir a Lei Maior, sendo útil em um local onde a Luz muitas vezes não consegue se aproximar. Eles através das suas experiências e vivências conseguem manipular os espíritos negativos para que os mesmos sejam auxiliados e possam dar continuidade em suas evoluções.

Todo esse preâmbulo foi dito para demonstrar algo: Tudo é Equilíbrio!

A Umbanda tem sua manifestação central nas figuras dos Caboclos, Pretos-Velhos e Crianças. As demais linhas de trabalho atuam em paralelo e em concordância com essas três manifestações da pirâmide de forças primária da Umbanda, inclusive as linhas de esquerda e dos próprios Exus.

O que ocorre é que nessa modernização ocorrida na Umbanda muito do conceito original foi perdido ou deturpado. Vemos agora muitas manifestações da linha de esquerda e em alguns casos uma total prevalência dessas linhas em detrimento das demais. O Caboclo acabou sendo calado, o Preto-Velho esquecido e a Criança abandonada, sobrando para o Exu todas as forças, atribuições e valores. Podemos notar isso na literatura romanceada umbandista, onde se encontra muitos títulos sobre os Exus e poucos sobre a vivência de caboclos, pretos-velhos ou qualquer outro espírito, independente da sua linha de ação.

Isso quando não vemos nas giras a grande necessidade das “VIRADAS”. Atendimento ocorrendo normalmente com determinada linha e de repente, tudo se vira para os Exus! Desculpem-me se estou sendo ácido nas minhas opiniões, mas onde aprendi a cultuar e praticar Umbanda, os Exus não operam desta forma. Eles se manifestam em suas atribuições primárias, tais como: Desmanche de Magias Negativas e Demandas, Aconselhamento mais direto e Desobsessões. Claro que eles fazem muito mais coisas, mas não consigo conceber um Exu eternamente alegre e feliz com tempo para fazer festa toda semana em terra. Parafraseando o sr. Exu Tiriri: “De onde venho, vejo a miséria de muitos semelhantes. Não há um momento sequer para o descanso, sequer para um sorriso  em meio a tanto sofrimento. Você acredita mesmo que viria até aqui, deixando minhas obrigações, se não fosse extremamente necessário? E ainda sorrindo o tempo todo ou apenas para jogar conversa fora enquanto outros precisam da intercessão dos meus e de mim? Exu é trabalho! E trabalho não se faz conversando…”

Então o que é essa mania de chamar Exu pra tudo? É claro que é desvirtuamento dos fundamentos e da tradição. Pois Exu na cultura popular é uma figura de poder e carisma inegável. Mas também assim o é o preto-velho e o caboclo.  Chamar Exu pra tudo é o mesmo que passar trote pra polícia, pois é a última alternativa e como sabemos, a maior parte dos nossos problemas são causados por nós mesmos, pois não trabalhamos em nossa reforma íntima. Então por que um Exu deveria vir em terra pra dizer simplesmente que precisamos repensar nossas atitudes? Qualquer guia poderá fazê-lo e alguns até com mais sabedoria e propriedade, pois atingiram (não que os Exus não tenham atingido) um grau elevado de evolução moral, intelectual e espiritual.

Vamos deixar as linhas trabalharem como foram concebidas para trabalhar. Isso de ficar tentando demonstrar poder pelo vigor e força já deveria ter sido sobrepujado. O verdadeiro poder está na elevação do pensamento e superioridade moral e não em quão “bad-boy” é a manifestação.

Ouça o episódio do Papo na Encruza sobre Exunização:

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