A primeira vez que decidi criar um blog e escrever na internet foi na época em que eu trabalhava com projetos sociais envolvendo tecnologia da informação. O intuito era expor meus ideais de então, sobre uma sociedade mais justa e igualitária e sobre o uso de tecnologias livres em diversas áreas. A ideia durou algum tempo, mas como eu tenho dificuldade em manter uma frequência nas coisas que eu faço (e que isso já sirva de aviso se caso os textos começarem a vagar por aqui), a ideia foi morrendo aos poucos.

Aliando isso aos  muitos acontecimentos na minha vida naquela época, principalmente ao fato de eu ter voltado a ter um contato mais direto com a espiritualidade e os estudos “magísticos” (entre aspas mesmo), o blog acabou se tornando um espaço para republicar materiais que eu considerava interessantes para quem busca informações nessa jornada, e, logo em seguida, eu mesmo comecei a publicar meus próprios escritos, baseados, obviamente, na minha visão superficial sobre muitas coisas relacionadas a este caminho (embora eu acreditar que tinha bastante embasamento em alguns desses assuntos, como a Umbanda, por exemplo). E assim nasceu o Autoconhecimento & Liberdade, espaço onde publiquei textos meus, de companheiros de caminho e outros autores durante aproximadamente 4 anos.

Logo o blog expandiu seus horizontes e foi parar em colunas de outros sites e se multiplicando em outros projetos de ainda maior abrangência, e eu me deslumbrando com tudo isso e acreditando que tinha muito conhecimento a passar… ledo engano!

O intuito do A&L sempre foi falar sobre a espiritualidade no cotidiano e para pessoas que não tinha contato direto com ela de forma consciente. Era de mostrar formas de ter contato com a espiritualidade mesmo que os leitores tivessem medo de um contato mais direto com alguma egrégora específica, de mostrar que é possível espiritualizar-se mesmo no cotidiano turbulento da vida moderna. Na época, então, assim como eu, o propósito também se perdeu pelo caminho, e ao invés de relatos meus, abordagens leves ou da possibilidade de expansão, o blog se tornou um espaço bastante doutrinador, onde essa expansão deu lugar ao sectarismo, infelizmente, refletindo obviamente a minha condição no momento.

Muita coisa aconteceu comigo desde que o blog perdeu seu sentido original e foi encerrado no início de 2014, quando eu decidi romper os laços com tudo que dizia respeito a minha exposição relacionada à espiritualidade na internet. Minha vida tomou rumos totalmente diferentes assim como meus estudos e caminhos dentro da espiritualidade. Revi muitos conceitos, mudei muitas opiniões, me abri para novas experiências no campo da espiritualidade e abandonei alguns dogmas e conceitos distorcidos de então, além da necessidade de ser um “Mestre” de alguma coisa, de ensinar aquilo que eu ainda não aprendi ou mesmo de pregar algo que ainda não internalizei.

Escrever é uma terapia e uma forma de estudar e rever conceitos de forma mais intensa. Hoje sei o peso da responsabilidade que é publicar a minha opinião em um ambiente como a internet, e, mais ainda, da responsabilidade de orientar alguém ou tentar mostrar um caminho como se fosse ideal, verdadeiro ou garantido. E, por insistência de algumas pessoas que me acompanhavam nos projetos de espiritualidade que fiz parte, decidi aceitar o convite do Douglas e contribuir esporadicamente com seu blog, principalmente por 3 motivos: Primeiro, porque confio na seriedade do Douglas e acredito no louvável trabalho que ele faz por aqui (embora achar as vezes que ele é doido por entrar em certos atritos =P). Segundo por que, como eu disse, escrever provoca minha reflexão e reavaliação de conceitos, e publicá-los exige uma dedicação maior em polir esses textos para que não sejam sectários ou finalizadores, mas sim, expansores, e, por fim, porque acredito que muitas pessoas vagam pela internet em busca de algo que motive suas vidas e desperte seu interesse por conhecer algo além do material, mas sem necessariamente precisar frequentar um tempo ou fazer um ritual complexo, e é possível sermos espiritualizados apenas para nós mesmos, termos um contato com o Deus do nosso coração de forma direta e simples, porém, extremamente verdadeira. Essa sempre foi a ideia do A&L e esse continua sendo meu desafio aqui.

E porque não restaurar o blog? Simplesmente porque também aprendi nesse último ano (especialmente graças a minha amada mulher!) que existe vida material além da espiritualidade. Não desejo mergulhar de cabeça nisso novamente e não tenho mais a necessidade de colecionar “joinhas”, me sentir importante ou ser um Sacerdote Virtual.

O Perdido em Pensamentos é um blog já muito bem estruturado e com seu público cativo, e é muito melhor contribuir para que um projeto coletivo se expanda do que ter algo para alimentar o meu ego (malditos planetas em Leão!). Como o Douglas mesmo diz, o Perdido em Pensamentos é do mundo. Aos poucos os antigos textos do A&L que valem a pena serão reformulados conforme minha visão atual e republicados aqui. Sei que existem outros blogs coletivos que inclusive hospedam textos meus, mas a coerência de propósito e ideais e a liberdade de publicar o que quiser me fez escolher este espaço.

Enfim, para variar eu “falei” demais e me alonguei, mas acredito que meu relato possa ser já uma ferramenta de reflexão, de que o egocentrismo e as obsessões se escondem mesmo nos trabalhos que consideramos mais nobres e edificantes, que nada substitui o nosso exercício de consciência, e que devemos sempre lembrar que somos seres incompletos em busca da perfeição, e vigiar sempre nossos passos é a única forma de nos mantermos conscientes. É ter pertinente em nós o senso crítico e a postura de sempre analisar tudo que fazemos com uma pergunta em mente: estamos fazendo isso para nossa evolução ou para a ascensão do nosso ego?

Para não perder o costume, deixo o trecho de uma música do Raul Seixas que reflete um pouco esse sentimento.

“O meu egoísmo,
é tão egoísta,
que o auge do meu egoísmo é querer ajudar.

Raul Seixas – Carpinteiro do Universo

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