A Umbanda é uma religião jovem com pouco mais de 100 anos – com ressalvas – que tomou uma projeção assombrosa principalmente no seu início. Claro que, como toda religião que se sobressai, vieram os oportunistas e denegriram a imagem desta que acabou tendo sua procura bastante reduzida nos meados dos anos 1980 e voltou a ressurgir na década de 1990 com o corpo que tem hoje.

Várias modernizações foram feitas, novos autores com novas ideias e conceitos chegaram para preencher uma lacuna que antes existia, a da literatura umbandista. Contudo muito se perdeu também com essa modernização.

Eu vejo isso por estar em uma Casa de Umbanda antiga, fundada nos meados da década de 1950, que trazia muito da raiz e da origem da religião. Eu tive certos conflitos ao estudar a literatura disponível e em comparação com o que aprendia nessa casa.

As transformações que ocorreram nas bases são tão grandes a ponto de utilizarem o neologismo: Neoumbanda, para designar essas novas vertentes.

Mas a que se deve esse fenômeno de modernização? Acredito que uma grande parcela disto se deve a elitização da Umbanda. Não que ela esteja sendo refém de uma classe social superior, de forma alguma, mas é que muitas pessoas procuraram a Umbanda nessas últimas décadas e com elas trouxeram o anseio pelo estudo sistematizado – dentro de uma prática de caráter popular – tentando explicar pelos olhos de doutores a visão do simples preto-velho mandigueiro. Eis que surgiram os Preto-Velhos Magos Imemoriais. Eu na minha humilde ignorância acredito que se o Preto-Velho quisesse revelar que era um mago já teria o feito sem antes usar o arquétipo citado.

Não que ele não possa ter sido, mas a estrutura que buscamos é da validação de algo pela superioridade que damos a ela. Um humilde ex-escravo negro e ancião já não tinha o impacto que um Mago Secular causava. Eis que se perdeu a identidade da Umbanda popular, e começamos a entrar na umbanda elitizada.

Deixamos de citar os Orixás, deixamos de cantar em português errado – devia ter um propósito, deixamos de permitir que os guias dissessem o que pensavam e trabalhassem como queriam. Hoje tudo tem que ser estudado e compreendido sob uma ótica cientificista ou magística. Tudo tem uma explicação dentro de códices escritos por autores atuais. E quanto se tem perdido da verdadeira magia do terreiro por permitir isso!

A padronização feita, assim como a exacerbação do ego nos terreiros, nunca foi tão forte e agressiva. Mais valor é dado hoje a títulos conquistados horizontalmente do que os outorgados pela espiritualidade. Cursos de teor raso, que parecem satisfazer grande parcela dos adeptos, se propagam pela internet e pelos terreiros a uma velocidade espantosa. A visão mercantilista do arrecadar para tudo e a insípida necessidade de ser médium de incorporação prejudicam a Umbanda em prestar o serviço a que ela se destina: Manifestar o Espírito para Caridade!

O que importa é acumular conhecimentos, títulos, faixas, filás, símbolos e não mais auxiliar os espíritos menos evoluídos, aprender com os mais evoluídos e a nenhum rejeitar – parafraseando o Caboclo das 7 Encruzilhadas.

Muitos me perguntam como saber se o terreiro é bom e confiável. Eu digo que devemos analisar pelas obras executadas. Se você se sente bem no ambiente já é um grande indício de que o terreiro está de acordo com suas energias. Vemos ainda o número de pessoas atendidas, no caso não importa a quantidade, mas a qualidade. Se nesse terreiro vão trezentas pessoas, mas só dez são atendidas a contento, algo está errado. Mas se vamos a um que atenda apenas vinte consulentes e dez são atendidos, algo já mudou.

Também sempre recomendo analisar o corpo mediúnico e seus trabalhadores, não pode haver exacerbação do ego, vaidades pessoais exageradas e até o teatro que encontramos em muitos locais.

Claro, não existem terreiros perfeitos, até porque a estrutura física nada significa, o terreiro é feito de médiuns e os médiuns são os imperfeitos humanos em processo de aprendizado.

O que eu acredito fielmente é que devemos retomar um pouco nossas origens. Parece que evoluímos tanto só para perceber que no fim nossos antepassados estavam certos. Que a mística da Umbanda está na simplicidade, na proximidade dos guias para com os consulentes, na dobra de ego que acontece quando um Doutor da Terra se consulta com um simples caboclinho do mato, entre outras tantas maravilhas que vemos no terreiro.

E para fechar, não é uma crítica a uma vertente umbandista, é uma crítica a todos nós umbandistas que perdemos o contato com a origem das nossas crenças. É como dizem, o homem pode voar até a Lua, mas nunca pode se esquecer de onde veio.

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