Já tentou responder a esta questão que dá o título ao texto? Parou para pensar? Pois, então, espírita é diferente de espiritualista – isso ouvimos a todo momento. Espiritismo é uma doutrina fundamentada por Allan Kardec, etc.

Mas você realmente parou para pensar no que é o espiritismo? Antes de mais nada quero deixar um alerta de que esse é um texto que pode incomodar e em momento algum eu tive a intenção de desrespeitar essa doutrina da qual fiz parte e tenho enorme apreço.

Tecnicamente, o Espiritismo é um termo criado para determinar uma doutrina trazida por espíritos superior através de comunicações mediúnicas e organizado pelo educador francês Hippolyte Léon Denizard Rivail. Porém eu pergunto aos espíritas, o que é preciso para ser um dos seus pares.

Essa doutrina tomou o corpo de religião, especialmente no Brasil, fugindo um pouco do que era sua proposta inicial, a união entre filosofia, moral e ciência. Utilizando-se dos livros básicos que são: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Céu e o Inferno, Gênesis e O Evangelho Segundo o Espiritismo.

Devemos sempre analisar o cenário da época, uma França, pilar do iluminismo europeu, onde o positivismo imperava, tirando do centro das questões o Teos e colocando o Humano em seu lugar. E uma força exterior vêm trazer uma frente totalmente diferente, mostrando a  continuidade da vida, a preexistência e a sobrevivência do Espírito antes da vida na Terra, na Reencarnação, na Comunicação com o Mundo Invisível, entre outros aspectos. Apesar de podermos dizer que isso são dogmas ou regras, para os espíritas não o são. É dito que Espiritismo é uma religião sem dogmas ou rituais. (O que esse escritor respeita, mas humildemente discorda).

O que vemos é que o Espiritismo não deveria ser uma posse de um determinado grupo de seguidores, visto que os livros foram editados pelos Espíritos para todos, e ao mesmo tempo, apesar das configurações da época e seus preconceitos e conhecimentos vigentes, era impossível explorar todas as facetas das religiões mundiais. Poderíamos dizer que pode se aplicar as Leis do Espiritismo em diversas religiões, sem que esse perca sua identidade religiosa.

Na época moderna, as reuniões espíritas se dão em casas chamadas de Centros Espíritas, onde basicamente se vai atrás de paz de espírito e instrução sobre a doutrina. Desenvolvem-se algumas atividades de cunho moral e evangelizador como as palestras sobre os livros da doutrina, os cursos de aprendizes de evangelho, a moral espírita infantil e mais reuniões com essa conotação. Além disso percebemos as reuniões de assistência espiritual através do tratamento via passe magnético ou espírita, administração da água fluidificada, aconselhamento espiritual e as reuniões de desobsessão, essa última geralmente reservada aos trabalhadores da casa e vetada a participação dos visitantes.

O Espiritismo tomou formas multifacetadas, inspirados por Kardec, mas continuamente influenciados por outros escritores, dentre os quais o mais famoso Francisco Cândido Xavier, através de obras dos Espíritos André Luiz, Emmanuel e mentores diversos, além claro das cartas destinadas as mães sofredoras que sempre tiveram sua presença nas reuniões da Casa do Caminho.

Apesar de ser uma doutrina com forte valor intelectual, é procurada por pessoas de todas as classes sociais, pois é dito que a morte acaba por igualar a todos como irmãos. Porém vemos uma grande influencia católica na seara espírita, dando lugar para preconceitos trazidos desta religião. Totalmente compreensivo visto que o discurso cristão é muito forte dentro do espiritismo e o mesmo sempre se confundiu com o poderio católico nesse País continental. Além disto muitos dos novos espíritas eram antes católicos, agora convertidos.

Há algo que gostaria de citar, é o recente preconceito do espiritismo – ou melhor de alguns adeptos espíritas, utilizando a doutrina – contra as demais religiões, principalmente as de cunho afro-brasileiro e a Umbanda. Realmente eles tem razão em afirmar que Umbanda não é Espiritismo, mas desqualificar com bases em textos do século XIX algo que surgiu posteriormente, é no mínimo estranho. Falham esses adeptos em seguir as próprias diretrizes do codificador do Espiritismo, onde é dito que é necessário o exame racional de tudo antes de refutar algo, e que a Fé Inabalável só é a que pode encarar a razão face a face em todas as eras da humanidade. Mas aqui já estamos desdobrando para outro escaninho. O que quero dizer é que, por uma infelicidade, muitos espíritas hoje leem escritores que são notoriamente espiritualistas, e não espírita, afirmando que seguem o seus ditames romanceados pois estão de acordo com o espiritismo. Podem até estar por ser algo universal, mas muito deveria ter sido pesquisado e atualizado, o que não foi feito, apenas aceitando os textos de Kardec como uma livro religioso inefável, infalível e impossível de ser refutado – estranhamente o próprio Kardec se contradiz e se corrige várias vezes entre a Revue e os Livros.

Essa doutrina é fantástica, e poderia dar aos seres humanos uma visão bem mais ampla da humanidade e do mundo espiritual, oremos para que a influência ‘espiritólica’ e também de ‘paraquedistas do espiritismo’ sejam dirimidas, para que a verdadeira mensagem tome novamente forma. Para ser espírita não basta ler os livros essenciais e os romances, seria necessário ler as obras básicas, alguns romances, fazer parte dos grupos de atendimento, das palestras, dos passes, dos cursos  e – o mais importante de tudo – vivenciar os valores morais propagados pelo Espiritismo e pelo Evangelho Segundo o Espiritismo.

É bom sempre lembrar que Kardec também bebeu em fontes mais ancestrais, visto que esse nome utilizado pelo educador francês é referente a uma encarnação em que o mesmo fora um Druida. Há algo de magia no Espiritismo? Pois se fossemos a tudo refutar, o nome do codificar poderia ser o primeiro. Deixo agora duas citações suas para ponderação:

Não façais aos outros o que não quereríeis que vos fosse feito, mas fazei-lhe, ao contrário, todo o bem que está em vosso poder fazer-lhe.

Allan Kardec

 

Na ausência dos fatos, a dúvida se justifica no homem ponderado.

Allan Kardec

 

%d blogueiros gostam disto: