por Peterson Danda

“Magia não oferece um escape da realidade ordinária: ao contrário, oferece um confronto completo com ela, onde se pode facilmente perder.” Peter J. Carrol

A inspiração para escrever estas palavras surgiu devido aos diversos desencontros de informações e constatações pessoais colhidas nos últimos anos de estudos. Tratam-se de “conselhos” que eu gostaria de ter recebido ou constatado durante este tempo, e que, expostos aqui, talvez auxiliem a evitar tropeços no caminho de quem se interessa por essa jornada.

Antes de dizerem que estou criando delimitações ou mesmo proferindo “verdades absolutas”, deixo claro que são apenas constatações muito particulares e descompromissadas. Se elas servirem para você de alguma forma, leve-as consigo, senão, ignore-as e siga sua vida. Simples assim! =)

1 – Magia não vai resolver seus problemas pessoais, emocionais e/ou psicológicos

Algo que vemos com certa frequência entre os que buscam este caminho é a esperança de resolver seu problemas pessoais utilizando a magia. Há os que acreditam que ela lhe trará fama, fortuna, estabilidade emocional, parceiros sexuais ou até mesmo a cura para doenças físicas e/ou psicológicas, e na verdade a coisa é um pouco diferente. Diversos foram os ocultistas de outros tempos que alertaram para a necessidade de se buscar o equilíbrio no campo material da sua vida (saúde, emoções, finanças, amores…) antes de você iniciar na senda da magia, pois os desafios serão imensos e tudo aquilo que for, de alguma forma, “falso” na sua vida cairá por terra. É simples, você está em busca da sua Verdadeira Vontade (“missão”, “objetivo maior” ou seja lá como deseje chamar) e NADA que estiver em desarmonia com ela permanecerá de pé por muito tempo, e você será tencionado a livrar-se do supérfluo ao seu caminho, sob pena de ser não avançar ou perder-se do mesmo.

Além disso, por você estar praticamente nadando contra a maré do senso comum e do status quo, é muito comum criar atritos ou sofrer julgamentos de quem está ao seu redor, a ponto de tudo parecer extremamente difícil ou até mesmo inadequado (as ditas “ordálias” se enquadram aqui). Agregue a isso o fato de que você lidará com energias que desconhece e que poderão mexer com sua mente, que, se não estiver em equilíbrio, pode levá-lo a loucura, o que já aconteceu com muitos magistas ao longo da história.

2 – Abra mão de seus dogmas pessoais

Especialmente aqui no Brasil, nossa criação foi extremamente influenciada pelos princípios e dogmas Cristãos, afinal de contas, a maioria de nós foi e ainda é batizada na Igreja Católica por simples “convenção social”, já que a família “padrão” brasileira se diz católica mesmo que nunca bote os pés em uma igreja. E, antigamente, caso você não fosse batizado, era considerado “pagão” e estava a mercê de toda sorte de superstições. Os dogmas cristãos são tão fortes por aqui que inclusive influenciaram diversas vertentes espiritualistas e/ou escolas de misticismo.

Para estudar magia você precisa, primeiro, esquecer tudo o que ouviu da sua avó sobre céu e inferno, bem e mal, sobre um senhor barbudo que está vendo tudo aquilo que você faz dentro do banheiro, ou mesmo uma criatura com chifres e patas de bode cujo único objetivo é levar você para o lado negro da força (como se nossa mente sozinha não fosse eficiente o suficiente para tal…). Independente do caminho que você escolha, é importante abrir mão desses conceitos aprisionadores, pois isso facilitará muito para que você tenha melhor contato com as diversas possibilidades que a magia lhe oferece.

Aproveite que irá se livrar destes conceitos tortos e abandone também os “dogmas sociais”, como o machismo, racismo, homofobia e etc. Lembre-se que tudo isso são convenções criadas historicamente para segregação e dominação, e aquele de deseja ser um mago deve, primeiramente, ser senhor dos seus pensamentos e ideias, e não um papagaio de conceitos tortos e ultrapassados.

Outra questão importante é saber que na magia você lidará com forças da natureza, que são prioritariamente forças cegas e neutras. Magia não tem cor ou polaridade senão aquele que a sua intenção der a ela, portanto, procure não julgar a cor da vela ou o método utilizado para realizar esse ou aquele ritual, ou mesmo o Ser que está respondendo a comunicação, pois TODOS podem ter fins “positivos” ou “negativos” dependendo do direcionamento que lhes é dado.

3 – Escolha uma egrégora para iniciar o seu caminho e, de preferência, que possua uma relação mentor-discípulo

Existem algumas vertentes que acreditam ser a magia solitária e passível de prática e aprendizado por um neófito solitário, apenas lendo livros, monografias, textos de internet e fazendo práticas aleatórias encontradas em sites de ocultismo. Isso até pode auxiliá-lo no começo, mas não vai leva-lo muito longe, ou pior, pode até lhe trazer uma série de perturbações, desequilíbrios, e até mesmo leva-lo a loucura por falta da orientação correta a respeito de certas práticas ritualísticas (isso se você chegar a fazê-las, mas é assunto para o próximo tópico…) ou pactos desconhecidos.

A relação mestre-discípulo sempre foi a principal forma de transmissão de conhecimento desde os primórdios da magia, e mesmo na era digital, ela ainda continua sendo a melhor opção para quem busca um desenvolvimento equilibrado e eficiente. Isso não significa que você deve escalar uma montanha asiática para encontrar um mestre monástico vivendo em reclusão, mas que deve procurar alguma escola de mistérios ou ordem discreta que irá lhe fornecer esse tipo de relação. De preferência, procure alguma em que você possa ter uma relação mais direta com quem irá lhe orientar, como encontros pessoais ou diálogos via alguma ferramenta de chat instantâneo, já que hoje as fronteiras físicas não são desculpa para mais nada, e é possível a você, mesmo morando no interior do Brasil, ser orientado por algum tutor dos EUA ou até mesmo da Índia.

Além disso, fazer parte de uma egrégora o auxiliará de diversas formas, como ter a proteção de algo maior do que você no momento onde você se encontra mais frágil e exposto, ter acesso a uma metodologia organizada de estudos que já foi e ainda é utilizada por diversos outros neófitos, fora a possibilidade de poder compartilhar suas sensações e descobertas com alguém que já passou ou está passando pelo mesmo processo, o que lhe trará mais segurança em sua jornada.

4 – Você nunca aprenderá magia a menos que pratique incessantemente

Quem já tentou aprender a tocar violão ou qualquer outro instrumento sabe o quanto é difícil e demorado até obter-se os primeiros acordes perfeitos. Você pode ler diversas revistas ou livros sobre o assunto, assistir diversas vídeo aulas e até mesmo colar aqueles adesivos toscos no instrumento, mas nada disso vai garantir que você aprenda a tocá-lo sem dedicar algum tempo diariamente para praticá-lo, do contrário, será apenas esforço desperdiçado. Esse exemplo também pode ser aplicado ao estudo da magia.

Pelo que pude perceber, de nada serve você possuir coleções gigantescas de livros ou PDFs sobre magia, estar ligado em todos os blogs existentes sobre o assunto, ouvir podcasts ou histórias de amigos se você nunca colocar a mão na massa, ou então, praticar apenas uma vez por semana aquele exercício que todos conhecem como sendo o mais básico que existe. A essência da magia é a sua vivência prática, e embora a teoria também seja necessária e lhe traga embasamento, você só conseguirá obter resultados satisfatórios com o exercício prático diário. A dica anterior também tem valor aqui, já que estar sendo orientado por uma escola ou ordem facilitará seu avanço, devido aos exercícios que lhe serão passados serem condizente com os resultados obtidos nos exercícios anteriores (com exceção de algumas ordens pague-leve que existem por aí). Pois, assim como acontece quando você começa a fazer atividades físicas regulares, você nunca deve iniciar pelos exercícios mais difíceis e complexos, mas sim, pelos mais simples e básicos, e só avançará a medida que seu instrutor, personal training ou algo do tipo percebe que você está apto para pegar mais pesado, e assim também deve ser com a magia.

Desconfie dos “relatos internéticos” de que em pouco tempo e sem muito esforço já se obtém resultados absurdos e geralmente fantasiosos, isso é só uma forma de elevação do ego ou de fazer você se sentir inferior ou desencorajá-lo das suas práticas. Os resultados acontecem, não busque se iludir com relatos alheios, e sim, concentre-se em perceber os seus e em tornar as práticas como algo inerente a sua vida.

5 – Concentre-se em você e esqueça os outros

Esta frase pode soar egoísta, mas é uma das dicas mais valiosas de todas na minha opinião. Ao escolher este caminho, você será testado de diversas formas até que você mesmo se sinta convicto e preparado para atingir níveis mais avançados dentro da magia, e certamente uma das formas mais eficientes de atingir êxito naquilo que se deseja é focar suas energias em você e em seus objetivos, que deverão, de alguma forma, estar alinhados aos objetivos maiores da egregora a qual você faz parte e até mesmo do Cosmos, caso você esteja realizando a sua Verdadeira Vontade.

É muito comum se ver por ai neófitos que mal avançaram em suas práticas básicas saírem esboçando “sabedoria” e achando-se capaz de corrigir ou ensinar outros estudantes, por vezes, causando estragos gigantescos para si e para aqueles que ele julga estar ensinando. Quando falamos em internet, esse cenário se multiplica infinitamente, afinal de contas, o que mais se encontra por aí são os tais “magos experientes” e seus relatos excepcionais citados anteriormente.

O conselho serve de duas formas: para que você não caia na conversa destes “supermagos” e nem mesmo tente se tornar um deles. É mais prudente, seguro e útil para você buscar informações ou tirar dúvidas com os mentores da sua escola ou ordem do que perguntar em um grupo do facebook, pois lá certamente você encontrará inúmeras respostas diferentes e até contraditórias sobre o mesmo assunto, que geralmente são dadas com base em achismos ou a leitura parcial de algum livro qualquer. Do outro lado, é muito mais útil a você dedicar seu tempo livre para reforçar suas práticas ou revisar as leituras básicas da sua escola ou ordem ou até mesmo de autores recomendados do que ficar por aí espalhando informações imprecisas ou parciais ao seu ponto de vista raso sobre o assunto. Quando você estiver pronto para passar o conhecimento adquirido adiante, isso com certeza lhe será solicitado dentro da egrégora que você faz parte.

De uma forma ou de outra, seja responsável com o caminho que escolheu e não busque nem forneça informações por pura necessidade de aceitação ou massageamento do ego. Isso lhe será mais gratificante do que imagina, e lhe poupará muita energia para o futuro.

Por fim, quero apenas acrescentar que eu já cometi todos os erros acima citados e os continuo cometendo, e foi justamente por isso que me senti impelido a publicar aqui essas informações, no intuito de auxiliar a outros que, como eu, sentiram-se perdidos e perderam muito do seu tempo pesquisando e lendo todo tipo de informação confusa por aí, ou então, acreditando que uma grande quantidade de informações teóricas e uma pequena dose de práticas trariam resultados satisfatórios, quando o medida é praticamente o inverso.

“O feiticeiro se dá ao diabo e o diabo se dá ao mago.”Eliphas Levi

Peterson D.

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