Nessa edição vamos falar um pouco mais sobre mitos e dogmas que acabaram entrando no imaginário popular.

Caso você tenha dúvidas e perguntas a serem feitas, lembre-se que podem enviar as mesmas por e-mail ou deixar no comentário desse tópico. Se não quiser se identificar pode deixar como anônimo. Todos os comentários são moderados para manter a privacidade de quem pergunta.

Apenas gostaria de lembrar que não é vexatório perguntar algo que não se saiba ou se está em dúvida, o problema é se calar e simplesmente aceitar os absurdos que andam fazendo com a nossa Umbanda.

01 – Eu queria saber como pode um mesmo guia incorporar em dois ou mais médiuns.

Vemos no terreiro um caboclo Sete Flechas incorporado em um Médium A e no Médium B também um caboclo Sete Flechas, como pode os dois médiuns incorporar o mesmo guia? Então, eles não incorporam. Isso é um mito na Umbanda, apesar de poder fazê-lo (se e espírito tiver um grau avançado de evolução) eles não se utilizam desses recursos. Cada médium tem o seu guia. O que acontece é que o Caboclo Sete Flechas não é um espírito em si, e sim uma falange, é uma identificação do grupo ao qual aquele espírito pertence. Existe um Sete Flechas original, esse não incorpora mais, é apenas o sustentador dessa falange. Então podemos ter um espírito João que se harmoniza e sintoniza com o trabalho dos Sete Flechas, ao começar a trabalhar na Umbanda como um guia de Lei, ele irá assumir a alcunha Sete Flechas. Os nomes são simbólicos apenas, e podemos até determinar para quais orixás esses trabalham. No caso desse exemplo 7 é um número que tudo se renova e Flechas é um símbolo de Oxóssi.

 02 – Me disseram que não se deve começar a incorporar pela linha da esquerda.

Outro preconceito, aliás, eu digo para vocês é até mais fácil começar a incorporar pela linha da esquerda, pelo fato do Exu / Pombagira terem a vibração mais próxima de nós encarnados. Não importa quem se manifeste primeiro, a Umbanda tem regras tanto no material quanto no espiritual, então se está se manifestando de uma forma correta, em um ambiente controlado, com pessoas preparadas e pautado no bom-senso e na prática da caridade, não há porque dizer que a esquerda não pode se manifestar primeiro. Tem muita coisa a respeito da esquerda que precisa ser desvelada.

03 – Mas Exu bebe, fuma e fala palavrão não é?

Respondendo isso diretamente eu diria NÃO para tudo. Exu não precisa beber, fumar ou falar palavrão. Vamos por partes: A Umbanda é uma religião espiritualista, mas de cunho magístico, ou seja, trabalha com a magia dentro dos seus rituais. A bebida e o fumo são elementos de magia, assim como a vela, as fitas, as comidas, etc. Mas o Exu não precisa ingerir a  bebida pra trabalhar com ela, ele simplesmente utiliza da contraparte etérea (ou seja a parte do objeto do lado de lá) para o trabalho magístico. Então ele pode muito bem pegar um copo desses de café pequeno com um pouco de marafô ou qualquer outra bebida alcoólica e deixar no seu ponto riscado ou no ponto de trabalho, sem ter que tomar. O mesmo se dá com o fumo, o tabaco é uma erva de poder e produz efeitos de limpeza, cicatrização, entre outros. É um desaglutinador de energias densas e negativas, mas isso não quer dizer que tem-se que fumar o tempo todo, a toda hora, vários e vários charutos, cachimbos e cigarros. Até vale uma ressalva, o cigarro industrializado quase não tem Axé, pois tem tanta substância química nociva ali dentro que o efeito do tabaco é diminuído. Em alguns casos, os guias até pedem para fazermos os fumos deles. Um de meus guias pede para colocar tabaco, hortelã, calêndula, alfazema, alecrim e rosa branca.

Vamos para a questão dos palavrões agora, e eu estenderia também para se jogar no chão, rosnar, babar, ou qualquer outra manifestação que possa ser considerada inferior. Isso não são atos feitos pelos Exus, vamos usar o bom-senso, um espírito de Lei, que deve ter passado por um rigoroso treinamento, que lida com hordas e hordas de seres das trevas, que tem amparo dos Orixás, iria se apresentar como um ser dementado? Não né… Isso são manifestações do animismo do médium que não procura entender os seus guias e aprender. Onde não há espaço para o estudo se abre espaço para a mistificação. Eu posso dar o exemplo do meu Exu, ele nunca sequer proferiu um palavrão, me chama de filho e me trata muito bem. Ele é menos Exu ou é menos poderoso que os demais? Use o bom-senso.

04 – Zé Pelintra é Exu?

Mais uma polêmica, quem é Zé Pelintra? Está na minha pauta escrever mais sobre Zé Pelintra, os malandros e os mestres da jurema. Mas agora vamos sintetizar um pouco, pois é um assunto longo. Zé Pelintra não é Exu, mas trabalha junto deles. Zé Pelintra tá mais pra Baiano, mas também podemos dizer que não é um. Zé Pelintra tem seu jeito de malandro, mas pode-se dizer também que a malandragem é só um de seus aspectos. Zé Pelintra na origem era um Mestre do Catimbó e da Jurema. O Zé Pelintra original era um Mestre, assim como outros como Mestre Malunguinho, Mestre Carlos e a Maria Padilha.

Mas é comum ver os ‘Zés’ virados na esquerda, pois ele vai se apresentar onde é necessário, ele é a personificação da flexibilidade, da adaptação, seja lá qual for a necessidade. Ele vai se apresentar aonde derem espaço para ele se apresentar. Lembrando que os Espíritos de Lei querem trabalhar, não importa o nome que vamos dar a eles ou em qual gira eles se apresentarão.

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