Não tem como, o preconceito é algo enraizado no ser humano. No brasileiro então nem se fala. Podemos até dizer que não somos preconceituosos, que temos a mente aberta e que todos são nossos irmãos. Mas é só surgir a estranheza para que comecemos a mostrar que não é bem por aí.

Temos preconceitos de tudo: sexo, classe social, cor da pele e etnia. Isso acontece até nas manifestações de linhas de trabalho que não estamos habituados, ou vai dizer que você vê um acampamento cigano na rua e não se preocupa que eles vão querer ler sua mão e roubar seus anéis? Não pensa que eles são sujos, que não tem emprego e que geralmente utiliza-se de subterfúgios para sobreviver? Isso é cultural do nosso povo.

E nós umbandistas temos a obrigação de sobrepujar os “pré-conceitos” ou seja, conceitos feitos previamente, antes de saber exatamente do que se trata algo. Para tentar tirar um pouco o “ranço” que temos quero abordar um pouco sobre uma linha de trabalho que ainda não é bem compreendida: Os Ciganos.

O povo cigano sempre sofreu perseguições, ser cigano não quer dizer que nasceu em um determinado local ou país, mas sim que traz consigo conceitos culturais bem parecidos e não necessariamente uma ligação de sangue. Existem diversos tipos ou famílias de ciganos espalhadas pelo mundo, existem os Kalderash, Rom, Kalê, Sinti, Romnichals, e muito mais. É dito que eles são povos que saíram da Índia, e adotaram a vida nômade.

O que primeiro pensamos em ciganos são as roupas coloridas, os dentes de ouro e a fala em espanhol. Porém um cigano não fala só essa língua. Na verdade a língua dos Ciganos é a língua Romani. Mas claro existem diversas outras línguas e origens, pois o povo cigano se espalhou pelo mundo todo.

Mas como estamos falando de Umbanda, qual o papel do Cigano na nossa doutrina? Simples, eles trazem a liberdade, a jovialidade, o prazer de viver, os valores familiares e a união dos povos. O cigano sempre celebra e nunca tem um local só para se estabelecer. Tem que ser flexível e aprender a se virar, é um povo livre por natureza. É dito que nas manifestações de ciganos, que quando um se ajoelha ele sempre toca apenas um joelho no chão, seja pra saudar quem for. Isso demonstra respeito mas o joelho erguido demonstra ainda que ele é livre para tomar suas próprias decisões.

Dentro dessa mística é por isso que o cigano não tem uma necessidade de trabalhar só com outros ciganos ou em um trabalho específico para essa linha. No começo da Umbanda muitos ciganos se manifestavam nas giras da esquerda, mas isso é devido ao preconceito dos dirigentes que não aceitavam outras manifestações nas giras da direita, inclusive isso ocorreu com outras linhas e ainda ocorre, como é o caso de Zé Pelintra, Linha dos Malandros, Linha dos Mestres Juremeiros, de Baianos e Boiadeiros.

Eles são devotos de Santa Sarah Kali, mas em algumas regiões também são devotos de Nossa Senhora, com variação da manifestação da mesma. Trabalham muito com ritos de prosperidade, em trabalhos relacionados a família, em trabalho material e para resolver inimizades.

Ao contrário do que se pensa Exu Cigano e Pombagira Cigana, não eram de povos Ciganos. Eles são, sim, simpáticos e se incluíram na temática cigana, com o tipo de trabalho desse povo, mas não necessariamente tem o “sangue cigano”. E também é bom lembrar que os ciganos não são esquerdeiros ou entidade da esquerda, apesar de ter alguns clãs de ciganos que trabalham na esquerda. O mistério desse povo é muito amplo.

Os itens que os ciganos geralmente usam são os lenços e panos coloridos, o punhal, as cartas ciganas, o tarot, as ervas frescas e secas, os temperos e especiarias, as frutas, a dança, o canto e o fogo. O fogo sempre foi importante pros ciganos pois é através dele que afastavam os animais que poderiam ferir alguém nos acampamentos e também cozinhavam os alimentos, fundiam os metais, etc.

Um Cigano e Cigana, não tem que fazer trabalho de amor, como muitos pensam. Mas eles fazem você se valorizar para começar a se amar e depois de se encontrar saber como compartilhar esse amor por outros.

Então, vamos abrir a mente e começar a entender esse povo, que é livre em sua essência, assim como todos nós deveríamos ser.

%d blogueiros gostam disto: